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10 de março de 2023

Camões e Macau no romance “O Reino Proibido” do escritor neerlandês J. Slauerhoff



"Se a felicidade pudesse ser encontrada em algum lugar da Terra, tinha que ser lá."
O Império Proibido, 1932

Camões e Macau num romance neerlandês



O Reino Proibido / J. Slauerhoff. – Trad. Patrícia Couto, Arie Pos. Lisboa: Teorema, 1997.

Ed. original: Het verboden rijk. – Rotterdam: Uitgave Nijgh & Van Ditmar, 1932.


 




“O romance revela um mundo em decomposição e em conflito, dominado pela animosidade entre chineses e portugueses e é constituído por três linhas narrativas que se entrecruzam e se sobrepõem. Uma primeira relata a história de Macau, desde os acontecimentos que por volta de 1540 levaram à sua fundação até ao início deste século. À imagem dada segue a linha de ascensão e queda apresentada na obra de C. A. Montalto de Jesus, Historic Macao: international traits in China old and new (1926). Trata- e de uma reedição da obra publicada em 1902, aumentada com uma parte bastante crítica em relação à política governamental e ao futuro de Macau. Logo após a sua publicação foi proibida e queimada pelas autoridades [Nota: “Uma primeira edição portuguesa da versão apreendida em 1926, Macau Histórico, foi publicada em 1990 pela Livros do Oriente”, Macau. – 350 p.; il. (25 cm)]. Não obstante, Slauerhoff adquiriu um exemplar do livro durante a sua primeira visita a Macau. Utilizou-o como fonte de informações acerca da história da colónia portuguesa. Mais uma vez, tal como foi o caso com a biografia de Camões da autoria de Schneider, a obra fornecia uma visão e interpretação dos acontecimentos históricos que correspondia à visão do próprio Slauerhoff. E mais uma vez ele utilizou os dados para servir os seus intentos, de forma aleatória, transfigurando-os e deslocando-os no tempo e no espaço. Assim, encontramos no Prólogo que trata da fundação de Macau dois protagonistas chamados Farria e Mendes Pinto e um remake do episódio da vingança de António de Farria em resposta à destruição de Liampó pelos chineses, como relatado por Fernão Mendes Pinto na sua Peregrinação. Slauerhoff baseou-se no resumo do episódio que encontrou em Historic Macao.

Uma segunda linha narrativa descreve a vida de Luís de Camões na corte de Lisboa, a viagem de navio para o desterro, o naufrágio (aqui situado em frente à baía de Macau), um segundo exílio – desta vez para a China – e a travessia pelo deserto chinês. As duas linhas juntam-se quando Camões chega a Macau.

A terceira linha narrativa conta a vida dum radiotelegrafista anónimo de origem irlandesa, que nos inícios dos anos trinta do nosso século se encontra embarcado no Mar de China. O radiotelegrafista apanha sinais misteriosos que mais tarde se mostram ligados à vida de Camões. Através dos sinais, o espírito do poeta consegue tomar conta do espírito do radiotelegrafista. Também ele sofre um naufrágio e é obrigado a atravessar o deserto chinês. Ambos vagueiam à beira da morte pelo deserto, onde se dá por fim uma «sobreposição» das duas personagens. As duas personagens confluem e no corpo do radiotelegrafista (mas vestido nas roupas de Camões) conseguem voltar a Macau, onde o radiotelegrafista se liberta da influência avassaladora do poeta, que se refugia na sua gruta, dedicando-se exclusivamente à composição da sua epopeia. O radiotelegrafista volta para Hong Kong para retomar a sua vida, na ciência de que os espíritos do passado não o podem libertar do seu próprio destino.

O que pode parecer um romance histórico é, pelo contrário, um complexo e arrojado romance simbólico que trata do problema da identidade do homem moderno e da questão da inspiração poética. O radiotelegrafista pode ser interpretado como mais um alter ego do autor, desta vez na sua qualidade de poeta maldito moderno que se deixa inspirar por poetas malditos de outros tempos. A inspiração procurada ameaça a identidade do poeta moderno.

É com este mesmo sentido simbólico que no romance a linguagem é sempre apresentada como um instrumento inadequado, que conduz à falta de comunicação, ao isolamento e à morte. Também a linguagem está sujeita à corrosão do tempo. As palavras perderam a sua força, elas desvalorizaram-se na troca diária. No romance, praticamente não encontramos diálogos. Também as cartas nunca são respondidas, as ordens e conselhos não são ouvidos por ninguém. A profunda crise em que os dois protagonistas se encontram é a dum mundo fragmentado, sem coesão interna, porque foi o verbo, a palavra no sentido de logos, que perdeu o seu poder ordenador e criador. Quer isto dizer que também a palavra é fragmentada e que cabe aos protagonistas restaurá-la.

A busca desta palavra matriz é uma longa e perigosa expedição, tal como fora a viagem de Vasco da Gama. Desta vez o rumo não leva ao outro lado do mundo, mas para dentro, para o subconsciente. Abandonado no deserto chinês, numa alucinação próxima da morte, o radiotelegrafista é possuído por Camões, seu subconsciente é o recetor do canto do poeta português. É preciso procurar nas ruínas do passado, da tradição literária – aqui representada na figura de Luís de Camões –, os resíduos para construir um novo canto. O radiotelegrafista sobrevive porque é salvo por Camões e porque se salva de Camões, expulsando-o. Se necessita da tradição literária, também precisa de se distinguir dela para poder construir a sua própria identidade.

O texto que perverte Os Lusíadas, é ao mesmo tempo construído à base de fragmentos da obra lírica de Camões, recorrendo a palavras, imagens ou motivos do poeta português. Este é o romance em que Slaueihoff é «possuído» por Camões, de quem, como um vampiro, extrai o canto.”


Patricia Couto

In: “Camões e Macau num romance neerlandês”
em Camões: revista de letras e culturas lusófonas, n.º 7 – Macau
(out.-dez. 1999), 115-117.







 





        1. Slauerhoff, J. - [O Reino Proibido] - capa de ed. holandesa.
        2. Slauerhoff, J. J. - [O Reino Proibido] - capa de ebook em holandês.
        3. Um dos primeiros mapas minuciosos  de Macau, 1639, pelo cosmógrafo António de Mariz Carneiro.
        4. Slauerhoff vestindo indumentária chinesa (in Col. Letterkundig Museum).
        5. Jan Jacob Slauerhoff e a baliarina Darja Collin, com quem esteve casado entre 1930-35.
        6. Panorama de Macau, em bilhete-postal, da coleção do escritor (in Literatuur Museum).




6 de março de 2023

Em Macau, junto ao busto do Poeta desgraçado, sente-se menos triste o desterrado - por Francisco Maria Bordalo

[Revisto, 9.03.2023]











Francisco Maria Bordalo, 1821-1861

Escritor, militar, viajante

Em 1849 foi nomeado secretário do governo de Macau, de onde regressou em 1852, tendo visitado na volta Itália, Paris e Londres. A oitava foi escrita junto à dita Gruta de Camões, em Macau.










Viajante – poeta – amante, eu paro
Ante o busto do vate harmonioso,
N’esta gruta defesa ao vulgo ignaro,
Onde o meu coração pulsa saudoso;
Recordando as canções do génio raro,
Seus amores, seu fado lastimoso,
Sente-se menos triste o desterrado –
Não é, junto a Camões, tão desgraçado!


FRANCISCO MARIA BORDALO




In:
Carta XVII, 19.01.1853, in Francisco Maria Bordalo – Um passeio de sete mil leguas: cartas a um amigo, 1854, p. 157.







31 de julho de 2021

Representações da "gruta de Camões" numa exposição do Museu de Arte de Macau





A Gruta de Camões, 1957
Autoria: Lui Shou-kwan (1919 – 1975)

Pioneiro do "Movimento da Nova Tinta" em Hong Kong, Lui Shou-kwan criou na década de 50 uma série de trabalhos a tinta e a cores com o tema da paisagem de Macau. Usou tinta elegante e leve para criar uma atmosfera tranquila e lírica na Gruta de Camões, criando poesia visual.
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賈梅士洞
呂壽琨 (1919 – 1975)
設色紙本,壓鏡
1957
41 x 54 cm










A Gruta de Camões na Exposição do Festival

Museu de Arte de Macau

até 26 de setembro de 2021


Hoje é aniversário da morte do poeta português Luís de Camões (c. 1524-1580). Diz-se que viveu em Macau durante dois anos e escreveu a famosa epopeia Os Lusíadas debaixo da gruta do Jardim Luís de Camões. A estátua de bronze existente na gruta foi fundida em 1866 por Lourenço Caetano Marques, um rico empresário português, que remodelou e embelezou a gruta várias vezes para comemorar o destino popular do grande poeta. 
A Fundação Oriente, junto ao Jardim, foi originalmente a villa ajardinada do rico empresário português Manuel Pereira, que esteve arrendada à Companhia Britânica das Índias Orientais para instalar um escritório em Macau. Esse casarão também já foi a sede do Museu Camões e as suas coleções foram posteriormente incorporadas no Museu de Arte de Macau (MAM). Muitas das obras que retratam a paisagem em torno da Gruta de Camões estão agora expostas na "Estrada para Henan[?] - Exposição do Acervo do Museu" organizada pelo MAM.
Aproveitando hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades de Língua Portuguesa, vamos apreciar as belas paisagens desenhadas pelos pintores que chegaram à Gruta de Camões há mais de cem anos, e sentir a alegria de viajar em Henan[?].
MAM, Mensagem (adaptada) no Facebook, 10 de junho de 2021




【從節日看展覽―—賈梅士洞】


今天是葡萄牙詩人賈梅士(Luís de Camões,約1524-1580)的忌日。據說他曾居澳兩年,在白鴿巢公園的石洞下創作著名敘事詩《盧濟塔尼亞人之歌》(又名《葡國魂》)。洞內現存的銅像是1866 年由葡籍富商馬葵士(Lourenço Caetano Marques)出資鑄造,他曾多次對石洞進行改造和美化,以紀念這位偉大詩人,賈梅士洞遂成當時西方遊客的熱門景點。

白鴿巢公園旁邊的東方基金會,原是葡萄牙富商俾利喇(Manuel Pereira)的花園別墅,曾租給英國東印度公司設立澳門辦事處,也曾經是賈梅士博物院的所在地。賈梅士博物院的藏品,後來由澳門藝術博物館接收珍藏,當中有不少描繪賈梅士洞一帶景色的作品,現正於藝博館舉辦的“豫遊之道──藝博館館藏展”展出。

趁著今天的葡萄牙日、賈梅士日暨葡僑日,一起欣賞百多年前慕名來到賈梅士洞的畫家們筆下的美景,感受豫遊之樂。

“豫遊之道——藝博館館藏展”

展覽日期:即日起至2021年8月29日

開放時間:上午10時至晚上7時(下午6時30分後停止入場)

     逢周一休館,公眾假期照常開放

公開導賞:逢周六、周日及公眾假期下午3時至4時,4時15分至5時15分
地  點:澳門藝術博物館三樓,新口岸冼星海大馬路
門  票:免費入場
查  詢:(853)8791 9814
網  址: www.MAM.gov.mo










Busto do Poeta no Jardim Luís de Camões, 1945
Autoria: George Smirnoff (1903-1947)
aquarela
22,6 x 29,3 cm

George Smirnoff chegou a Macau na Primavera de 1944. O Dr. Pedro José Lobo, responsável pela Direção dos Serviços de Economia de Macau, encomendou-lhe obras. Entre as 63 pinturas de paisagens de Macau que comprou ao artista e que doou ao governo de Macau, encontra-se esta da Gruta de Camões, em que tão bem soube captar os jogos de luz e sombra, usando tons claros para sugeiri uma atmosfera simultaneamente poética e pitoresca .
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賈梅士花園賈梅士像
史密羅夫 (1903 – 1947)
水彩
1945
22.6 x 29.3 cm





Vista de Macau a partir do Monte da Fortaleza, 1852
Thomas Watson (1815-1860)
Aquarela, lápis e sépia sobre papel, 19.8 cm x 27.4 cm
17/12/1852
Aqui pode ver-se a entrada principal do Jardim, o edifício de dois andares da Fundação Oriental e a vulgarmente chamada gruta de Camões, que arderam com o tufão de 1874.
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從大炮臺俯瞰澳門景色
托馬斯.屈臣 (1815 – 1860)
紙本水彩、鉛筆、墨水
17/12/1852
20 x 28 cm





Porto Interior de Macau, c.1850
Autoria: Thomas Watson (1815-1860)
Lápis e tinta sobre papel
17,3 x 25 cm

O esboço de Thomas Watson mostra uma vista a partir do Jardim à beira-mar até à Igreja de Santo António. O Dr. Watson veio para Macau em 1845 e foi médico, aluno e amigo de Chinnery.

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此畫乃是來自蘇格蘭的托馬斯.屈臣(Thomas Watson)醫生的素描,畫面同樣是從白鴿巢海邊望向聖安多尼堂,此一位置應是畫家們取材的好地點。三三兩兩的漁民為畫面增添了生活感。
屈臣醫生1845年到澳門,是錢納利的醫生、學生和朋友。其作品主要以開闊的景象和淡雅的技巧表現,屈臣在熱愛錢納利繪畫風格的同時,仍保有個人對繪畫風格的追求。
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澳門內港
托馬斯.屈臣 (1815 – 1860)
紙本鉛筆、墨水
c. 1850
17.3 x 25 cm




A "Gruta de Camões" no Jardim Luís de Camões em Macau, c.1843
Autoria: Thomas Allom (1804-1872)
Colorida à mão
12,7 x 19 cm
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澳門白鴿巢公園賈梅士洞
繪畫:托馬斯.阿羅姆 (1804 – 1872)
製版:森美.佈雷蕭
凹版─鋼板、雕凹線法、手工著色
c. 1843
12.7 x 19 cm





A Gruta de Camões no Parque do Ninho das Pombas Brancas, 
atualmente designado Jardim Luís de Camões, c. 1837
Autoria: Edmond Bigot de la Touanne (1796-1863)
Litografia, 26 x 18,5 cm

A jovem americana Harriett Low Hillard visitou o Jardim Luís de Camões em 1829, descrevendo-o elogiosamente no seu diário:
 "É muito aberto, com muitos caminhos sinuosos. Pode ver-se o mar claramente; também se pode subir a montanha e ver enormes rochas e árvores...
 Outro lugar é a gruta onde o famoso poeta Camões escreveu Os Lusíadas, e há um busto dele na gruta... É um local natural. erelaxante."
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年輕的美國姑娘哈麗特‧洛(Harriett Low Hillard)於1829年參觀白鴿巢花園,她在日記中讚道:“它非常開闊,有多條蜿蜒小徑。可以清楚地看到大海,你還能爬到山上,看到巨大的岩石和樹木。……另一處在石洞裡,赫赫有名的賈梅士寫下了《盧濟塔尼亞人之歌》,山洞內安放著他的一尊半身像。……這是一處充滿野趣且讓人心曠神怡的地方。”
而這幅度安納(Edmond Bigot de la Touanne)所畫的賈梅士洞,細緻地勾勒巨石組成的洞穴,木製中式六角亭建在石洞上,洞旁廣植竹樹,洞前有正在交談的洋人和華人,他們指向洞內的石碑。畫的下方寫著Grotte du Camoens, dans le jardin de M. Pereira a Macao,意為“澳門俾利喇花園中的賈梅士洞”。
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白鴿巢公園賈梅士洞
度安納繪畫
比薩博亞製版
平版─石版
約1837
26 x 18.5 cm





Vista a partir do Jardim Luís de Camões para a Igreja de Santo António, 1814
Autoria: James Watson (1751-1828)
Coloração manual
14,8 x 22,3 cm

A rubrica abaixo da pintura diz:

Macau, com a Igreja de Santo António, do Jardim de Camões
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白鴿巢公園(賈梅士公園)景致
原作:詹姆士.沃森 (1751 – 1828)
製版:詹姆士.克拉克
凹版─銅板、飛塵法蝕刻手工著色
1814
14.8 x 22.3 cm





Gruta de Camões, 1814
Original: James. Watson (1751-1828)
Fabricação de pratos: James. Clark
Chapa de cobre-rotogravura, gravura em pó, coloração à mão
1814
14,3 x 21,8 cm Ver menos

A Gruta de Camões era originalmente formada pelo empilhamento natural de três enormes rochas. 
Um pavilhão foi construído na pedra superior da gruta. 
Do lado esquerdo da mesma, subia-se as escadas até ao pavilhão para contemplar a vista panorâmica de Macau. 
Naquela época, chamava-se o Pavilhão do Ninho dos Pombos.

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賈梅士洞原為三塊巨石自然堆叠而成,洞頂石上曾建一亭,由石洞的左側拾級登上亭子可遠眺澳門全景,當時被稱為鴿巢亭。

白鴿巢公園賈梅士洞
原作:詹姆士.沃森 (1751 – 1828)
製版:詹姆士.克拉克
凹版─銅板、飛塵法蝕刻、手工著色
1814
14.3 x 21.8 cm





Vista da Igreja de São Paulo, 1788
Autoria: John Weber (1751-1793)
Impressão: desconhecido
Placa de cobre de rotogravura?, método de ranhura gravada, colorida à mão
27,5 x 38,5 cm

No lado direito desta pintura está o Jardim Luís de Camões, onde se encontra a "Gruta" de Camões
 A rubrica da pintura, em baixo, diz:

View in Macao
Including the residence of Camoens, when he wrote his Lusiads
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聖保祿教堂後山遠眺
原作:約翰.韋伯 (1751 – 1793)
印製:不詳
凹版─銅版、雕凹線法、手工著色
1788
27.5 x 38.5 cm