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2023/02/21

Entrevista a Luís de Camões, por Forum Estudante

 





Entrevista a Luís de Camões: «É tramado nadar só com um braço livre, digo-vos já»


O famoso autor d’Os Lusíadas aceitou receber-nos em sua casa, para nos falar um pouco dos seus projetos literários e contar-nos a sua vida repleta de aventuras.



Hoje em dia, é um dos autores mais consagrados da Língua Portuguesa. Como se sente, por ter mostrado «novos mundos ao mundo» neste campo?

Foi uma surpresa, devo dizer. Não estava à espera. Comecei a escrever aquilo por graça, para mostrar aos meus amigos, e às tantas alguém disse: «Pá, Luís, devias publicar isso!» e eu fiquei a pensar.

Como lhe surgiu a ideia para Os Lusíadas?

Eu sempre li muito e gosto muito dos mitos gregos e tal. Achei que a História de Portugal merecia um bocadinho de salero, um bocadinho de tcharan, e quis dar-lhe isso. E depois, bom, não estou a dizer que é preciso viver uma vida de aventuras pelo Oriente para ajudar à inspiração, mas também não atrapalhou (risos).


Fale-nos um pouco dessa vida de aventuras.
Não há muito a dizer. Isto é, a gente andava por Lisboa, a compor versos para as damas, pronto. Às vezes, havia um marido ou um pai ou um irmão que se chateava, havia confusão. Nada de mais, mas não recomendo, ainda assim. O problema era quando me metia à porrada. Por isso é que tive de ir para África e para a Índia.

E dá-se aí o famoso episódio do naufrágio, certo?
Ui, vocês não estão bem a ver. Trovões e relâmpagos, o mar revolto, uma grande confusão! O barco vai ao fundo e eu lanço-me ao mar, só com o meu manuscrito. É tramado nadar só com um braço livre, digo-vos já!


Quer dizer algumas palavras aos milhares de estudantes que, todos os anos, têm de ler os seus textos?

Bom, peço desculpa por qualquer coisinha… Olhem, não se preocupem muito com o verso heróico decassilábico, à medida que se lê uma pessoa habitua-se. E, para ser honesto, há algumas palavras que nem eu sei bem o que querem dizer.














2023/02/20

Entrevista a Luís de Camões que responde com os seus próprios versos, por Baptista Bastos






 
 

Baptista-Bastos imaginou uma entrevista a Camões em que as respostas deste às perguntas feitas são versos dos seus poemas.





ENTREVISTA (excerto)


— Camões, você parece ser um homem triste.

Tudo passei; mas tenho tão presente / a grande dor das cousas que passaram / que as magoadas iras me ensinaram / a não querer já nunca ser contente. 

(Do soneto “Erros meus, má fortuna, amor ardente”)


— Pode definir o amor, você, que foi a ele dado?

— Amor é um fogo que arde sem se ver; / é ferida que dói e não se sente; / é um contentamento descontente; / é dor que desatina sem doer. / é um não querer mais que bem querer; / é um andar solitário entre a gente.

(Do soneto “Amor é um fogo que arde sem se ver”)


— A sua vida foi, portanto, difícil?

— Em prisões baixas fui um tempo atado, / vergonhoso castigo de meus erros; / inda agora arrojando levo os ferros, / que a Morte, a meu pesar, tem já quebrado. / Sacrifiquei a vida a meu cuidado, / que Amor não quer cordeiros nem bezerros; / vi mágoas, vi misérias, vi desterros, / parece que estava assi ordenado.

(Do soneto “Em prisões baixas fui um tempo atado”)


— Mas acredita na permanente transformação das coisas, na transformação do Mundo?

— Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / muda-se o ser, muda-se a confiança; / todo o Mundo é composto de mudança, / tomando sempre novas qualidades.

(Do soneto “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”)


— No entanto, você, Camões, parece um homem preocupado.

— Tanto de meu estado me acho incerto, / que em vivo ardor tremendo estou de frio; / sem causa, juntamente choro e rio; / o mundo todo abarco e nada aperto. / É tudo quanto sinto um desconcerto; / da alma um fogo me sai, da vista um rio; / agora espero, agora desconfio, / agora desvario, agora acerto.

(Do soneto “Tanto de meu estado me acho incerto”)













Fonte:
Baptista-Bastos (1980) [Entrevista imaginária], in revista Camões, n.º 2-3 (set.-dez. 1980), número que assinalou as “Comemorações do 4.º Centenário da Morte de Camões”, Lisboa: Ed. Caminho.
Apud: 
CARREIRO, José – Luís de Camões: a lenda, in blogue Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 10.06.2007.








Olá ! Eu sou Luís de Camões..., diálogo entre poetas imaginado por Isabel Silva








 



Olá ! Eu sou Luís de Camões.


Diálogo imaginado entre os poetas Luís de Camões e António Gedeão, no tempo atual.



Luís de Camões: Olá ! Eu sou Luís de Camões e ouvi dizer por aí que andaste a imitar um poema meu que falava sobre a minha bela Leanor. E como se não bastasse transformaste-a numa figura horrorosa, que mais parecia ter saído de um bordel. Nunca ouviste falar nos Direitos de Autor?

António Gedeão: Acalme-se homem. Em primeiro lugar eu não imitei o seu poema. Eu só me baseei nele para escrever um poema mais moderno, que as pessoas desta época possam perceber. Além disso a minha Leonor é muito digna. Vesti-a com a roupa que se utiliza hoje em dia, porque se a descrevesse como o senhor o fez não entenderiam a sua beleza e ainda podiam pensar que ela tinha saído de um convento.

Luís de Camões: Quer então dizer que eu não sou bom escritor e que não descrevi Leanor corretamente? Era o que faltava. Eu nem tinha ouvido falar nas peças de vestuário mencionadas no seu texto.

António Gedeão - Pelo contrário. Considero-o um excelente escritor e para mim é uma honra poder falar consigo. Acho que descreveu muito bem a sua Leanor e todas as situações do poema. Mas tem de compreender que o tempo passou e com ele mudaram os costumes, a fala, o vestuário e muitas outras coisas.

Luís de Camões - Talvez tenha razão. Até acho o seu poema bom, embora não o compreenda bem.

António Gedeão: Como já referi, agora, o uso da linguagem é outro. A maior parte das pessoas não compreendem o meu poema quanto mais o seu que já foi escrito há alguns séculos.

Luís de Camões: Pois é. Já no meu tempo era assim. As pessoas começam a ler, não percebem a primeira estrofe, põem o poema de lado e não se dão ao trabalho de o tentar compreender. Há uma coisa que não percebo. Porque é que a sua Leonor anda de motoreta? (não faço ideia do que isso é). Agora já não é costume as pessoas andarem a pé?

António Gedeão: Claro que andamos a pé. Só que já não é hábito irmos buscar água à fonte, porque temos água canalizada. Por isso decidi descrevê-la a ir de motoreta para a praia.

Luís de Camões: Se formos a ver o tema do seu poema afasta-se um pouco do meu. O meu poema fala de uma Leonor humilde, que me atrai devido à sua beleza simples e que aos meus olhos é a mulher mais bonita na face da terra.

António Gedeão: Quanto a mim, no meu poema descrevo-a como uma mulher sedutora e provocadora que deixa toda a gente a olhar para a ela por onde quer que passe. Mas devo confessar-lhe que a sua Leanor me agrada mais.

Luís de Camões: Afinal ainda existem bons poetas. Tenho de ir embora. Ando a ver se consigo escrever mais algum poema, mas a idade não perdoa. Espero que tenha uma obra muito vasta. Gostei de o conhecer.


Autoria: Isabel Silva










Fonte:
Ministério da Educação - DGIDC (2006) , in Educação para a Cidadania:  Guião de Educação do Consumidor. - [.PDF]. Lisboa: ME - DGIDC, p. 93. - Este texto está integrado no anexo "G. Viver seguro e saber gerir o risco na sociedade de consumo", p. 90, que inclui "Textos de apoio à compreensão do tema" e "Fichas para os alunos", p, 90-93.

Apud: Helena Damião, "Olá" Eu sou Luís de Camões", in blogue De Rerum Natura: a natureza das coisas4.03.2011.