Imagem em Cronicas Macaenses
Blog-foto-magazine de Rogério P D Luz
Padre Manuel Teixeira
n. Freixo de Espada à Cinta, 15.04.1912 - fal. Chaves, 15.09.2003
Sacerdote, jornalista, historiador, escritor e camonista.
* * *
O Padre Manuel Teixeira conheceu, polemizou com, e citou
Luís Gonzaga Gomes (1907-1976), um grande camonista de Macau,
tendo escrito cerca de oito textos, entre 1940 e 1980, com reedições (em 1999),
na área dos Estudos Camonianos.
Várias décadas, pois, com interesse dedicado à
presença do poeta Camões em Macau.
* * *
A 16 de setembro de 1924, com 12 anos,
embarcou como seminarista para a sua missão no Oriente,
e chegou a Macau a 27 de outubro, tendo ingressado no Seminário de S. José.
Na igreja desse Seminário, recebeu o diaconado (15.06.1934)
e o presbiterado (19.10.1934). Pouco depois, a 1 de novembro,
celebrou a sua primeira missa na igreja de S. Domingos,
passando a ser pároco de S. Lourenço até 1946.
Exerceu funções docentes no Seminário (1932-1946),
no Liceu (1942-1945), no Colégio de S. José (1962-1965),
na Escola Comercial Pedro Nolasco (1962-1964)
e no Liceu Nacional Infante D. Henrique (1964-1970).
Foi promotor da Justiça
e defensor do Vínculo do Tribunal Eclesiástico (1936-1947),
e procurador dos Bens das Missões Portuguesas na China.
Desempenhou cedo o cargo de diretor do
"Boletim Eclesiástico da Diocese de Macau” (1932-1947);
Ao longo de muitas décadas, Manuel Teixeira
foi articulista, editor, director e fundador de jornais e revistas eclesiásticos,
tendo colaborado ativamente em diversos periódicos de Portugal e do estrangeiro.
Foi também Director dos “Arquivos de Macau” (1976-1980)
e do “Boletim do Instituto Luís de Camões”.
Em 1948, parte para Singapura como superior
e Vigário Geral das Missões Portuguesas de Singapura e Malaca.
Em Singapura, onde viveu durante cerca de catorze anos,
organizou várias instituições religiosas,
fundou, em língua inglesa, a revista “Rally” e o boletim "Stop, Look, Go".
Em representação de Macau e de Portugal, participou
em vários congressos realizados em
Manila, Singapura, Taipé, Sidney, Paris e Banguecoque.
O Governo Português reconheceu os seus relevantes serviços,
agraciando-o com o grau de Oficial da Ordem do Império Colonial, em 1952,
e ao longo da sua vida recebeu muitas mais honras e distinções:
Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (1974), Medalha de Valor (1985),
e, a 10 de junho de 1989, foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa
com a Comenda da Ordem Militar de S. Tiago e Espada.
Se era popular como pessoa, tendo sido proclamado Figura do Ano em Macau, em 1982,
o mesmo aconteceu com alguns dos seus estudos:
a Fundação Calouste Gulbenkian galardoou com o prémio de História
o seu trabalho “Os Militares em Macau”, em 1981, e “Toponímia de Macau” , em 1983.
Monsenhor Manuel Teixeira passou quase toda a sua vida em Macau
(60 anos dos 75 vividos no Extremo Oriente: 15 foram passados em Singapura),
tendo contribuído em diversas áreas, para além da religiosa,
destacando-se no jornalismo, na pesquisa acerca do património cultural
e na história de Macau.
Regressou a Portugal em 2001,
vivendo até aos 91 anos em Chaves, na Casa de Santa Marta.
CAMONIANA
Camões esteve em Macau
Padre Manuel Teixeira
Macau: Direcção de Serviços de Estatística e Censos, 1980.
47 p., (20x 14 cm)
2.ª ed., 1999
Padre ManuelTeixeira (1.º texto), José Hermano Saraiva (2.º texto)
"Edição especial para o Colóquio
"Homenagem a Luís de Camões , Poeta Universal",
da Organização Mundial de Poetas.
Macau, Junho de 1999."
Macau: Fundação Macau; Instituto Internacional de Macau, 1999.
105, 89 p. (27 cm).
Nota: O Texto de José Hermano Saraiva fora publicado, com o mesmo título,
na Revista de Cultura, n.º 22 (1995), Macua: ICM.
Duas Palavras
“Em 1940, publicámos um livro – Camões em Macau – sobre a estadia do poeta nesta terra.
Em 1977, publicámos outro – A Gruta de Camões em Macau – dedicado a esse jardim pitoresco, reafirmando a passagem do grande épico por Macau.
Agora, por ocasião das festas comemorativas do IV Centenário da morte de Camões, voltamos a reclamar a mesma glória para esta Cidade do Nome de Deus.
A capa é da autoria do Prof. António Andrade, a quem muito agradecemos.”
Padre Manuel Teixeira
Macau, 10 de junho de 1980
Da apresentação" da obra, "Duas palavras", p. 13.
- Camões em Macau, Boletim do Instituto Luís de Camões, Macau, vol. 14, n.º 1-4 (Primavera-Inverno 1980), 1-32; 41-61.
- Camões in Macau / by Fr. Manuel Teixeira. - 2nd ed. - Macau: [Tip. Martinho], 1980. - 21 p. (27 cm). - Sep. de Boletim do Instituto Luís de Camões, Macau, vol. 14, n.º 1-4 (Primavera-Inverno 1980), 1-32; 41-61.
- Camões em Macau, Boletim Eclesial da Diocese de Macau, vol. 78, n.º 905 (1980), 8-15.
- Cristo nos Lusíadas: discurso proferido pelo Pe. Manuel Teixeira no Dia de Camões, Boletim do Instituto Luís de Camões, Macau, vol. 14, n.º 1-4 (1980), 145-157.
A gruta de Camões em Macau
P. Manuel Teixeira
Macau: Imprensa Nacional, maio de 1977.
246 p. : il. (26 cm).
A obra está dividida em três partes:
I - História da Gruta
II - Antologia sobre a Gruta
III - Representação Iconográfica da Gruta
2.ª ed., 1999
A Gruta de Camões em Macau / Padre ManuelTeixeira
"Edição especialmente feita
para ser apresentada junto à Gruta durante o Colóquio
"Homenagem a Luís de Camões — poeta Universal",
da Organização Mundial de Poetas.
Macau, Junho de 1999."
Macau: Fundação Macau / Instituto Internacional de Macau, junho de 1999.
V, 226 p. (27 cm)
Esta edição respeita a primitiva paginação da 1.ª ed.
(a da Imprensa Nacional,1977),
eliminando-lhe a parte III, de iconografia da Gruta.
* * *
Poemas dedicado a Camões:
«Glória a Camões» | «Glória de Portugal» | «Glória de Macau» | «A Voz da Gruta»
in Notícias de Macau, 10.06.1972.
Reprod. em P. Manuel Teixeira - A gruta de Camões em Macau, 1977
e na 2.ª ed., 1999, p. 202-204 (em ambas as edições).
A Voz da Gruta
Eu sou soldado, e sou pobre,
Que não me vale ser nobre,
Sou Camões, o trovador;
Nesta terra de Macau
Só me resta humilde Jau,
Para alívio à minha dor.
Desponta o sol no oriente,
Vem risonho, ledo e quente,
Estas praias alegrar;
Dos seus raios a beleza
Aumenta a minha tristeza,
Redobra o meu suspirar.
Em linda noite flutua
Saudosa e pálida a lua,
Lá no céu de estrelas cheio;
Seu fulgor, tão meigo outrora,
Exacerba mais agora
Cruas, mágoas deste seio.
Que importam aves da selva,
Que importam lírios da relva,
Que importam brisas do mar?
Não são minhas estas flores,
Não são meus estes amores,
Não é meu este folgar.
Cada riso desta gente,
Que por mim passa inclemente,
Ostentando seu prazer,
É punhal que me trespassa,
É serpente que se enlaça,
No coração a morrer.
Que te fiz, ó pátria amada,
Terra minha idolatrada,
Para assim me desprezares?
Quem o nome português
Com maior intrepidez
Celebrou em seus cantares?
Que poeta, ou que soldado,
Ou na lira ou no traçado,
Deu à pátria mais amor?
Que soldado, ou que poeta
Rege no céu um planeta
De influxo mais opressor?
Nesta gruta solitária,
Minha ideia incerta, vária,
Em que pensa? - em Portugal.
Lá meus amores ficaram,
De lá Camões desenterraram
Para esta rocha fatal.
É delito ser poeta?
É crime a voz do profeta
Verdades só descantar?
É delito ter amor?
É crime aos pés dum senhor
Não ir a frente curvar?
É crime os olhos erguer
Para uma dama, e morrer
Da mais extrema paixão?
É crime aos pés dessa dama
Todo em amor, todo em chama
Arrojar um coração?...
1 Não importa; - nesta gruta,
Nesta rocha árida e bruta,
Mais do que as penhas adusto,
Mais que os séculos robusto,
Maior que a minha nação.
De Rodes pode o colosso,
Ao grito de - mando e posso, -
Fundir-se, desaparecer;
Mas o padrão que eu levanto,
Não entra nele o quebranto,
Não há de nunca morrer.
Eu tenho-o aqui, nesta mente;
É mais que a Ilíada ingente:
À pátria o hei de legar,
Oh! seja ela embora ingrata,
Esta ingratidão não mata
O meu civismo sem par.
Outros lá, nessa Lisboa,
A privança galardoa,
Com medalhas e brasões:
Cavalguem belos telizes
Sejam ricos e felizes,
Sejam tudo... eu sou Camões.
P. M. Teixeira
Camões em Macau:
contribuições para o estudo do problema
P. Manuel Teixeira
Macau: Imprensa Nacional.
68 p. (24 cm)
- (1940) A gruta de Camões. Macau: Imprensa Nacional.
para saber +
“Catálogo da Bibliografia do Monsenhor Manuel Teixeira
Coleccionada pela Biblioteca Central de Macau”
Macau: ICM, Biblioteca Central de Macau, 2004.
Disponível para consulta online.
Amadeu Gomes de Araújo
in Dicionário Temático de Macau, vol. IV, U. Macau, 2011, p. 1413-1414.
Versão online em Memória de Macau.
in Arquivo Distrital de Bragança [online], Notícias, 1.10.2023
António Aresta
in Jornal Tribuna de Macau, 19.09.2018
António Aresta
“Monsenhor Manuel Teixeira e a História da Educação em Macau”,
in Brigantia, Bragança, 1998.
Jorge de Abreu Arrimar
Mons. Manuel Teixeira: o homem e a Obra – Father Teixeira: The Man and his Work
Macau, 1992.
Paulo Coutinho
“Monsenhor Macau”
in MacaU, Nov. 1994.
24.08.2025