2025/09/30

CAMONISTA - Hélio Alves



Trinta anos de Camões:
ensaios e intervenções 1991-2021


de Hélio J. S. Alves

Lisboa: Caleidoscópio, 2024

362 p.

Uma colectânea de crítica literária, filológica e histórico-cultural

"Este livro consiste numa recolha de reflexões realizadas entre dois regressos do autor a Portugal, o primeiro antes de iniciar a carreira universitária, o último logo depois de mudanças determinantes nela. A migração é o entre-lugar certo para entender Luís de Camões e os seus intérpretes mais voluntariosos e influentes (Manuel de Faria e Sousa, António José Saraiva e Jorge de Sena foram, como ele, emigrantes). A vida noutras paisagens e culturas permite adquirir o distanciamento necessário para, sem deixar de ver a árvore, vislumbrar a floresta.

Camões como autor não é o que tem parecido ser. Não é tão independente, ousado ou desinteressado como se tem dito, nem é o cantor do povo que direita e esquerda nele quiseram ver. Queixa-se insistentemente de que a poesia, a cultura e as artes são desdenhadas em Portugal, mas aquilo que incomoda Camões pessoalmente é a falta do «favor com que mais se acende o engenho», isto é, a falta de subvenção mecenática – e não, como erradamente se tem visto, a «apagada e vil tristeza» da pátria. Queixa-se, como é fama, de ser vítima de infortúnios e miséria; foi, porém, tratado pela Coroa de modo invulgarmente favorável.

Grande poeta épico e lírico, capaz duma fluência e energia inigualáveis, Camões levanta, ao mesmo tempo, problemas terríveis. Trinta Anos de Camões é uma colectânea de crítica literária, filológica e histórico-cultural que pretende contribuir para uma compreensão mais genuína da sua poesia, ao arrepio das interpretações excepcionalistas e exclusivistas predominantes desde há séculos."
Da sinopse no site da Caleidoscópio






Hélio J. S. Alves
 n. Coimbra, 1963
Professor, investigador, camonista

Mestre em Línguas e Literaturas Românicas
pela Universidade de Londres (1986)
e doutorou-se em Literatura na U. Évora em 1999,
onde defendeu provas de agregação, em 2008.

É professor de Literatura na FLUL
e director do Centro de Estudos Comparatistas (CEComp). 

Entre outros artigos e monografias, publicou
Camões e Tasso, ficções em diálogo (Évora, 1996);
Camões, Corte-Real e o sistema da epopeia quinhentista (Coimbra, 2001);
"O som e a fúria d'Os Lusíadas" /Coimbra, 2006 - p. 49-65);
"Camões e o lirismo confessional na epopeia quinhentista, 
separta da revista Românica 16 (2007), Lisboa;
 Sepúlveda e Lianor : canto primeiro / Jerónimo Corte-Real -
 ed. crítica e comentada de Hélio J. S. Alves (Coimbra, 2014);
Poetas que não eram Camões = Poets who weren't Camões
coautoria de Landeg White e Hélio J. S. Alves (Lisboa, 2018).



  1. Cartaz do lançamento da obra, provavelmente com apresentação de José Alberto Ferreira.
  2. No dia 16 de maio de 2025, pelas 10h00, o professor Hélio Alves falou de "Camões, de Redondo e de outras coisas mais" na palestra intitulada "Nos princípios de Camões".



para saber +


Hélio Alves | Facebook

Hélio J. S. Alves | U. Évora

Vítor Serrão
O Camões de Hélio Alves | Facebook, 2.10.2025







Redação: 2.11.2025

AS VIDAS DE CAMÕES



CAMÕES

Bibliografia das Biografias

  • BOBONE, Carlos Maria (jun. 2024) Camões: vida e obra. Lisboa: Dom Quixote.
  • NOVO, Isabel Rio Novo (jun. 2024) Fortuna, Caso, Tempo e Sorte: biografia de Luís Vaz de Camões. Lisboa: Contraponto. - Col "Biografias de Grandes Figuras da História de Portugal".
  • TELMO, António (2011) A aventura maçónica: viagens à volta de um tapete: [seguido de] Autobiografia e sobrenatural em Luís de Camões: onde se revelam alguns segredos guardados n'Os Lusíadas. Transcrição e rev. Diana Vaz Ribeiro, Pedro Martins, Alexandre Gabriel. Sintra: Zéfiro. – Col. Hyram. Colecção maçónica.
  • CIDADE, Hernâni (2004) Luís de Camões. – 23.º vol. de História de Portugal. Coord. José Hermano Saraiva. Matosinhos: QuidNovi, 2004. – 95 p. a 2 colns.
  • MARGARIDO, Manuel (2004) Luís Vaz de Camões. Ilustrado, col. "Grandes Protagonistas da História de Portugal". Lisboa: Editora Planeta deAgostini. - Com enquadramento na história ibérica e europeia da época e cronologia final. - Leitura online, na ISSUU.
  • AZEVEDO, Maria Antonieta Soares de (1981) "Quando Camões fala de si...", Arquipélago. Série Ciências Humanas, Revista da Universidade dos Açores, Ponta Delgada, nº. 3 (jan. 1981), 291-314. - [PDF].
  • SARAIVA, José Hermano (1978) Vida ignorada de Camões. Mem Martins: Europa-América. – 398, [1] p., (21cm). Col. Estudos e documentos, 141]. | 2.ª ed. rev. e acrescentada, 1978. – [447 p., (21cm). Na mesma col. com o mesmo nº. | 3.ª ed. rev. e acrescentada, 1994, com subtítulo “Vida ignorada de Camões: uma história que o tempo censurou”. – [529] p., (21cm). Na mesma col. com o mesmo nº. 
  • SARAIVA, José Hermano (1977) Elementos para uma nova biografia de Camões, Lisboa, Sep. Memórias da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Letras, 1978. - Comunicação que, com a epígrafe Os enigmas de Camões, submeteu à Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, em 21 de Abril de 1977.
  • RIBEIRO, Aquilino (1974) Luís de Camões: fabuloso Verdadeiro. Lisboa: Bertrand.
  • CORREIA, Sebastião Morão (1970) A propósito do "Camões" de Aquilino, Lisboa: Edição de Álvaro Pinto ("Ocidente").
  • CIDADE, Hernâni (1957) Luís de Camões. Lisboa: Arcádia. | Luís de Camões: a obra e o homem. Lisboa: Arcádia, 1964. | 2.ª ed., “rev. e aum.”, agosto 1971. | 3.ª ed., março 1979. | 4.ª ed., abril 1980. – Edição simultânea no Círculo de Leitores, sob o título Camões. // Vida e obra de Luís de Camões | 4.ª ed., Lisboa: Presença, 1986. – Col. Textos de apoio, 18; 167 p. 
  • SARAIVA, António José (1959) Luís de Camões: estudo e antologia. Lisboa: Europa-América. – Col. "Saber". | 2.ª ed, revista, 1972. | 3.ª ed., revista, especialmente no cap. respeitante à biografia do Poeta, Amadora: Bertrand, 1980. | 1.ª ed. na Gradiva: Luís de Camões. Lisboa: Gradiva, 1997. – [170, [1] p., Col. "Obras de António José Saraiva", 15.
  • CIDADE, Hernâni (1941) Luís de Camões: a vida e a obra lírica. Lisboa: Edições Ocidente. / 1943.
  • LOUREIRO, José Pinto (1935) Novos subsídios para a biografia de Camões. Figueira da Foz: Tipografia Popular.
  • CARVALHO, Amadeu Ferraz de (1924) Camões em Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade.
  • AGOSTINHO, José (1907) [biografia do poeta], in A chave dos Lusíadas. 9.ª ed., Porto: Figueirinhas.
  • BRAGA, Teófilo (1907) Camões: época e vida. Porto: Lello & Irmão.
  • STORCK, Wilhelm ([18...] 1980) Vida e obras de Luís de Camões. - Edição fac-similada da edição original, que é uma versão para português do original em alemão, anotada por Carolina Michaelis de Vasconcelos. Lisboa: INCM. - Publicação integrada nas Comemorações do IV Centenário da morte de Luís de Camões, e patrocinada pela Secretaria de Estado e Cultura.
  • SOUSA, Manuel de Faria (1685) [La Vida del Poeta], in Rimas varias de Luis de Camoens: Princepe de los Poetas Heroycos, e Lyricos de España. Ofrecidas al Muy Ilustre Señor D. Iuan da Sylva a Marquez de Gouvea... Commentadas Por Manuel de Faria, y Sousa, Cavallero de la Orden de Christo. Lisboa. En la Imprenta de Theotonio Damaso de Mello. Año 1685.
  • SOUSA, Manuel de Faria (1639) [La Vida del Poeta], in Lusiadas / de Luis de Camoens: Principe de los Poetas de España: Al Rey N. Señor Filipe Quarto El Grande. - Comentados por Manuel de Faria e Sousa, Cavallero de la Ordem de Christo, e de la Casa Real. Em Madrid. Por Juan Sanchez. Anno 1639.
  • FARIA, Manuel Severim de (1624) [vida], in Discursos varios politicos / por Manoel Severim de Faria Chantre, & Conego na Santa Sê de Euora. - Em Evora : impressos por Manoel Carvalho, impressor da Universidade, 1624.
  • MARIZ, Pedro (1613) [Vida de Camões], in Os Lusíadas do grande Lvis de Camoens, Principe da Poesia Heroica. Commentados pelo Licenciado Manoel Correa. Em Lisboa, por Pedro Craesbeeck. / Vida de Camões. Lisboa: INCM, 1980. - Edição de um manuscrito que apresenta uma variante textual [borrão?] da mesma biografia.
  • MATOS, Mauricio (2005) A mais antiga biografia de Luís de CamõesRevista camoniana, 3.ª série, n.º 17 (2005), Bauru: Edusc, p. 197-206. – reprod. em Investigações Camonianas (1998-2008), 2.ª ed. revista, Manaus: UEA, 2022, p. 12-20.


para saber +










Redação: 29.06.2024, atualizado em 30.09.2025

"Em 2025, celebramos juntamente a Língua Portuguesa e Camões!"



 Latitudes da Língua Portuguesa 

 DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA 

"Vamos afirmar o português como 
língua de encontro, partilha e identidade global!"

"Afirmar a língua portuguesa
como plataforma global de entendimento e partilha
entre alunos/ escolas de diversas regiões e culturas".

5 de MAIO de 2025 | Portugal, Mundo

Inscrições: 
26 de março a 5 de abril

Estabelecimento de parcerias: 
a partir de 5 de abril

Organização:

Rede de Bibliotecas Escolares



Celebrar juntamente a Língua Portuguesa e Camões


"Neste ano especial, a proposta “Latitudes da Língua Portuguesa”
que assinala o Dia Mundial da Língua Portuguesa
associa-se ao V Centenário do Nascimento de Camões
o seu maior símbolo literário.

Como habitualmente, unimos alunos de várias geografias 
— de Portugal e de países/regiões onde se fala ou ensina português — 
criando pontes culturais através da palavra.

As ligações podem ser virtuais ou presenciais: 
videoconferências, troca de e-mails ou correspondência postal, 
exposições, encontros com autores, entre outras atividades."




💡

SUGESTÕES DE INTERAÇÃO

propostas pela RBE


Ver descrição das imagens aqui.


para saber +


RBE | No Facebook, 26.03.2025

in Luís de Camões - Diretório de camonística, 30.09.2025








Redação: 30.09.2025

Webinar "Camões: escritor de língua portuguesa ou em língua portuguesa?"



Latitudes da Língua Portuguesa: 
o legado de Camões

Camões: escritor de língua portuguesa 
ou em língua portuguesa?

WEBINAR

"Uma conversa com escritores, professores e especialistas 
sobre a presença e o futuro da língua portuguesa, 
tendo Camões como ponto de partida"


5 MAI. 2025 | 10h30 - 12h00


Inscrição em 



No Dia Mundial da Língua Portuguesa, a RBE 

- organiza um  webinar que junta várias personalidades em torno do 
legado de Camões para a Língua e cultura em português;

- convida as bibliotecas escolares a participarem no webinar.

- promove um evento para docentes e alunos do Ensino Secundário.

PROGRAMA


10h30 – Boas Vindas

Manuela Pargana Silva
Coord. nacional da Rede de Bibliotecas Escolares

10h40 – Mesa Redonda

Com moderação de Joaquim Ramos, Camões, I.P.

e a intervenção de
Marina Sartori de Toledo, Coord. do Núcleo Educativo do 
Museu da Língua Portuguesa, de S. Paulo 
Gonçalo M. Tavares, escritor
Osvaldo Silvestre, FLUC
Inocência Mata, FLUL

11h40 –  Resposta a questões do público

11h55 – Encerramento

Manuela Pargana Silva
Coord. nacional da Rede de Bibliotecas Escolares




para saber +

 Camões: escritor de língua portuguesa ou em língua portuguesa?
in RBE, 21.04.2025






Redação: 30.09.2025

Amor e tragédia nas viagens de Camões, pelo agrupamento Sete Lágrimas



 “Tin-Nam-Men ou a Gruta de Patane” 
(Amor e tragédia nas viagens de Camões)

 ESPETÁCULO MUSICAL 

pelo grupo Sete Lágrimas


Com itinerância
Ver infra o CALENDÁRIO de CONCERTOS


O agrupamento Sete Lágrimas:

Filipe Faria e Sérgio Peixoto - direção artística
Filipe Faria - voz, percussão
Sérgio Peixoto - voz
Tiago Matiasvihuela, guitarra barroca, guitarra romântica, tiorba
Juan de la Fuente - percussão
 
Sete Lágrimas


CALENDÁRIO de CONCERTOS

2025

nov. 2025
  • 2025.11.11, terça-feira | em Ourém.
out. 2025
  • 2025.10.17, sexta-feira | em Idanha-a-Nova.
  • 2025.10.05, domingo | em Mafra. 
  • 2025.10.04, sábado | às 19h | No Auditório Carlos do Carmo, em Lagoa. - no âmbito da parceria com a RidMusa - Rede Informal para a Difusão da Música Antiga.
  • 2025.10.01, quarta-feira | às 21h30 | Noa Igreja Matriz (antiga) de Famalicão.
set. 2024

  • 2025.10.17, quarta-feira | em Évora.
  • 2025.19.12, sexta-feira | em Lisboa.

2024

out. 2024
  • 2024.10.10 | às 21:00 | Na Igreja de São Francisco, em Bragança. - No âmbito do Bragança ClassicFestFestival Internacional de Música.

2022

  • 2022.07.03, domingo, às 19h00 | No Convento dos Capuchos, freguesia de Caparica e Trafaria, Almada | Espetáculo intitulado: "Amor e tragédia nas viagens de Camões - “Tin-Nam-Men ou a Gruta de Patane”. - O programa era diferente do programa atual do concerto de Bragança.


SINOPSE

"Conta a lenda que estando Camões desterrado em Macau se recolheu na Gruta de Patane, escutando o eco dos seus sonhos e do seu desespero, para escrever a grande epopeia d’Os Lusíadas que contava a história do seu povo. 

Ao partir conheceu uma nativa de Patane, Tin-Nam-Men (Dinamene), por quem se apaixonou. Partindo com o poeta na Nau de Prata irromperam pelos mares do sul quando foram assolados por uma grande tempestade. A Nau de Prata estava condenada a afundar-se, embarcaram as mulheres num batel e os homens salvaram-se a nado. 

Camões, de braço no ar, segurando Os Lusíadas, nadou para terra, mas o barco onde seguia a linda Tin-Nam-Men foi engolido pelas ondas."
in Algarve Vivo, 1.10.2025

PROGRAMA


Tin-Nam-Men ou a Gruta de Patane

Amor e tragédia nas viagens de Camões

O dia de hoje

"Quanto mais pode a fé que a força humana"
          Os Lusíadas, Canto III, est. 111

1. Na fomte está Lianor, Villancico anónimo (s. XVI)
2. Senhora del mundo, Vilancico anon. (s. XVI)
3. Endechas a Bárbara escrava, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Luiz de Camões (s. XVI)

A partida

"Que, nos perigos grandes, o temor
É maior muitas vezes que o perigo"
Os Lusíadas, Canto IV, est. 29

4. Fandango, Tiago Matias (n. 1979)
5. Hashivenu (liturgia tradicional judaica)

A viagem

"E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer? "
Sermão de Santo António aos Peixes (1654) de Pe. António Vieira (1608-1697)

"Acabemos de nos desenganar, antes que se acabe o tempo."
Sermão de Dia de Ramos (1656) de Pe. António Vieira

6. Amor loco, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre anónimo (s.XVI)
7. Folia, Gaspar Sanz (ca.1640-1710)
8. A força de cretcheu, Eugénio Tavares (1867-1930)
9. Muwashah, Al-Andalus/Middle East (IX/X c.)
10. Tarantella, Trad. (Itália), arr. Tiago Matias
11. Pues que veros, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre texto de vilancico anónimo (s. XVI)

A permanência

"E quando foi ao p.ro de abril desaparecemos de Malaqua [Macau] e asy fomos ao longuo da costa até a Ilha q se chama pulo pisão onde estiuemos de todo perdidos com hūa muj.to grande trouoada q nos deu e em tanta man.ra q se noso snõr não fora seruido de se faser a vella em pedaços acabada era a viagem com a vida de nos todos."
 Peregrinação (1614) de Fernão Mendes Pinto (c.1509-1583)

"E conhecendo hum daquelles, que como mayoral ou mestre da musica gouerna os outros, o Gaspar de Meirelez, lançou mão por elle para tanger, & metendolhe na mão hūa viola lhe disse, rogote que cantes o mais alto que puderes, porque te ouça este defunto q aquy leuamos, porque te affirmo que vay muyto triste pela saudade que leua de sua molher & de seus filhos a que em estremo era affeiçoado [...]."
Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto

12. Es tan grave mi tormento, Filipe Faria e Sérgio Peixoto sobre Pêro de Andrade Caminha (s. XVI)
13. Bastiana, Tradicional (Macau/China)
14. Ko le le mai, Tradicional (Timor)
15. Takeda no komoriuta, Tradicional (Japão)
16. Farar far, Tradicional (Goa/Índia) 

“Tin-Nam-Men ou a Gruta de Patane”

Introdução ao Programa

"O presente programa tem como mote os amores, reais ou lendários, de Luís de Camões por uma jovem chinesa, durante a estada do poeta em Macau.

A crer no relato histórico (conquanto não se saiba se ele foi, já então, ficcionado), os sentimentos que os uniam eram fortes, ao ponto da jovem ter acompanhado o poeta na viagem deste de regresso a Goa. Acontece que a embaracação naufragou junto ao delta do rio Mekong (sul do Vietname) e a jovem acabou por perecer nesse naufrágio. Ela está por isso ligada ao famoso episódio em que Luís de Camões, tentando salvar-se, mantém ao mesmo tempo um braço levantado, segurando a saca onde trazia o manuscrito d’Os Lusíadas!

Chamava-se esta jovem Tin-Nam-Men, nome que tem uma curiosa semelhança com ‘Tiananmen’, topónimo que, como sabemos, significa ‘Porta da Paz Celestial’ ou ‘Porta da Pacificação Celestial’ – e, pesem as diferenças linguísticas Pequim/Cantão, o nome dela significaria algo de parecido. Certo é que o seu nome foi vertido como Dinamene, o que a identificou com a ninfa marinha da Ilíada homérica, identificação esta provavelmente póstuma, por via de ter Tin-Nam-Men morrido afogada. O nome dela surge associado – e assim imortalizado – a dois sonetos do poeta: ‘Ah! Minha Dinamene!’ e ‘Quando de minhas mágoas’ e é evocado na redondilha 'Sôbolos rios que vão', esta de cariz elegíaco pela sua morte [Nota 1: O nome dela é referido por Diogo do Couto (c. 1542-1616), amigo do poeta, historiador e guarda-mor da Torre do Tombo de Goa, mas não há certeza se se trata de um relato histórico fidedigno ou da fixação por escrito de uma fantasia poética de Camões].

Contextualizando: Camões esteve em Macau, crê-se que entre 1563 e 1565, ou seja, uma mera década após o estabelecimento dos primeiros portugueses na península [Nota2: A presença regular de portugueses nas costas da China dá-se a partir de 1513, com Jorge Álvares.] que viria a ser possessão portuguesa até 20 de dezembro de 1999.

Camões já estava no Oriente desde o Outono de 1553 [Nota 3: Considerando que Camões só regressaria à metrópole em Abril de 1570 e tomando os anos que esteve nas praças portuguesas em Marrocos (mormente Ceuta), ele passou mais de metade da sua vida adulta fora de Portugal continental!] e, baseado em Goa, ali desempenhou o seu ofício primeiro, o de soldado, ao serviço da Armada do Índico, com a qual percorreu a maior parte das costas desse oceano. Foi para Macau desempenhar um cargo administrativo e ali ficou associado à Gruta de Patane (hoje, parte do Jardim Luís de Camões), onde, reza a história, terá escrito boa parte do seu poema épico [Nota 4: Na verdade, Camões deverá ter concebido o seu poema logo desde a longa viagem para a Índia e adiantado a sua redação quando em Goa.].

O programa do agrupamento Sete Lágrimas empreende uma evocação dessa longa estada de Camões no Oriente e cruza-a com uma panorâmica da disseminação portuguesa por essas partes do mundo, desde Moçambique até ao Japão e a Timor.

Ao mesmo tempo, incorpora o que seria a mundivisão de Camões quando partiu rumo à Índia, impregnada das músicas populares do seu país, das músicas de corte, e das culturas e tradições mediterrânicas, incluindo as de matriz muçulmana e sefardita.

Temos por isso a presença tutelar de excertos d'Os Lusíadas, mas que coexistem com pedaços dos Sermões do Padre António Vieira – outra figura maior da nossa cultura que viveu a maior parte da vida fora de Portugal (e da Europa) – e com passagens da famosa Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.

A componente musical intenta captar o que seria a ‘sonovisão’ de Camões, da época em que viveu, dos lugares por onde passou e dos ambientes que frequentou.

É assim que ouviremos, desde logo, vilancicos: um género musical (profano e, sobretudo, religioso) endógeno da Península Ibérica, que gozou de enorme popularidade até ao início do séc. XVIII, aí se individualizando os ‘vilancicos negros’, cujo texto procurava imitar a pronúncia do português (ou do castelhano, ou do latim) pelos escravos negros trazidos para a Europa ou levados para o Brasil/a América, sendo que também a música incorporava alguns aspectos das suas práticas musicais. Os que hoje ouviremos provêm de arquivos ou foram reconstruídos ‘ex novum’ por Filipe Faria e Sérgio Peixoto. Aquele intitulado ‘Minina dos olhos verdes’ é uma referência à nossa Tin-Nam-Men, que, segundo consta, teria uns lindos olhos dessa cor.

Também ouviremos romances (de tema amoroso ou mais narrativo), incluindo os da tradição sefardita peninsular; cantos religiosos; músicas populares do espaço mediterrânico (Andaluzia, Reino de Nápoles); e temas da música tradicional de Goa, Macau, Timor e Japão.

Um retrato-relance, enfim, dos complexos e multicontinentais processos de aculturação, miscigenação (étnica e cultural), sincretismo e multiculturalismo que se produziram na vigência do Império Português e das várias diásporas que no seu interior ocorreram. Hoje já lá vai o Império, mas esses processos continuam, fertéis, inventivos e enriquecedores como sempre."

Bernardo Mariano



para saber +


Sete Lágrimas, no Instagram | Sete Lágrimas, no Facebook

Arte das Musas | Arte das Musas, no Instagram







Redação: 22.06.2024, atualizado em 1.10.2025

2025/09/29

Camões na BibloAsia, a revista da Biblioteca Nacional de Singapura

 

Alguns dos locais da Ásia por onde Camões passou ou viveu
Imagem do artigo de Isabel Rio Novo na revista BiblioAsia 21

Camões na BiblioAsia

a revista da Biblioteca Nacional de Singapura

Volume 21, n.º 3 (Oct. - Dec. 2025)




Imagem na página da escritora Isabel Rio Novo no Facebook

"Luís de Camões in Asia"

o artigo de Isabel Rio Novo

e igualmente disponível para leitura a edição  online.


"Portugal’s most important poet was once imprisoned in Goa, 
saw fighting in Ternate, was shipwrecked near the Mekong Delta 
and worked as the Superintendent for the Dead in Macau."


Levar Camões aos leitores asiáticos

"O desafio era levar Luís de Camões aos leitores asiáticos, 
centrando-me no período de dezassete anos que passou no Oriente, 
cujos passos e cronologia, sem falsas modéstias, acredito que 
ficaram razoavelmente elucidados depois da publicação da 
biografia Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
O resultado saiu na última edição trimestral da revista Biblioasia, 
da Biblioteca Nacional de Singapura. 
Uma bela prenda para findar setembro e começar a semana."

Isabel Rio Novo
in Facebook, 29.09.2025






para saber +


CAMONISTA - Isabel Rio NovoNational Library Board

100 Victoria Street, 01-02
National Library Building
Singapore 188064







Redação: 29.09.2025

2025/09/28

Receção poética de Camões em Kit Kelen






Senhora idosa está a bater em vilão
Imagem em 
Villain Hitting in Hong Kong

ESCONJURAR A CULTURA

(versão portuguesa, por JCC)

fora do Jardim de Luís de Camões
há uma agitação intraduzível

qualquer pessoa ofendida pode vir
executar o
da siu yan*
bater no vilão

cair em desgraça
comer o pão que o diabo amaçou
ser de estatura alta ou de estatura baixa
ter uma filha sem ancas
ou um filho escanzelado
e
da siu yan
bater no vilão

Kit Kelen



CURSING CULTURE
(English translation)

outside the Camoens gardens
there is an untranslatable frenzy

anyone with a grudge can come
to
da siu yan
hit the little man

fall down in the street
eat shit
penis this and penis that
may your daughter have no hips
your son no arse
and
da siu yan
hit the little man

Kit Kelen



詛咒的文化
(original)


在賈梅士公園門口
有一種無法傳譯的瘋狂

任何一個心懷怨恨的人
都可以來到這裏
「打小人」
打小人

撲街
食屎
屌這屌那
生女的沒屁股
生男的沒屁眼
「打小人」
打小人

Kit Kelen
(關文淑 姚風 譯)



Christopher (Kit) Kelen 
 N. 1958
é um poeta, pintor e professor
jubilado da Universidade de Macau.

Publica desde a década de 1970
e a sua poesia está traduzida em português,
chinês, francês, italiano, espanhol, indonésio, sueco e filipino. 

Da série bridges and boats by Ki Kelen



para saber +

Kit Kelen | página oficial do autor

Fernando Sales Lopes, org.
Poetas & Amigos
Macau: Edição online FRC Graphic Design, 2013

* Nota:
Bater no vilão, Da Siu Yan / 打小人
ou exorcismo de demónios, 
é uma feitiçaria popular na região de Guangdong, na China, 
e na região administrativa especial de Hong Kong. 
Amaldiçoa-se os inimigos usando magia. 
Bater em vilões é considerada uma profissão humilde, 
cuja cerimónia é geralmente realizada por mulheres idosas. 





Redação: 28.09.2025

2025/09/27

Recepão poética da obra de Camões em Maria Azenha



A tempestade, por Kelly Murphy

O Cabo das Tormentas

Meus dias, uma sombra Além de lá,
Cumprindo o Destino de um mar sepulto.
Disse-me Deus, em sonhos: Deus não há.
Só fantasmas, ânsias. E um mistério oculto.

E o mar em impropérios fez Continentes,
Vomitou a Terra, o ar e o céu que atravessou;
E, em vários continentes, d’Oriente a Ocidentes,
Ergueu, do sonho negro, o Mostrengo que falou:

 Pois venha o que não Há que é já Império,
O sonho que foi morto é já no ventre. –
E Deus, sem porto, nem sombra nem mistério,
Juntou o mar ao céu. Tornou-se crente.

Rodou o Mostrengo então. Rodou três vezes.
Três vezes mais rodou além de estreme;
E Deus, da velha Nau, daqueles revezes,
Tornou-se Português. Com Bojador ao leme.

MARIA AZENHA





Maria Azenha, foto de M. Céu Costa
Maria Azenha
n. Coimbra, dez. 1945.
Poetisa portuguesa

Licenciada em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra,
tendo frequentado também o Conservatório Nacional de Música nessa cidade.

Foi docente nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa 
e na Escola de Ensino Artístico António Arroio. 

Obras destacadas:

Ellys [Elisabete de Almeida] (pinturas e textos) & Maria Azenha (poemas)
De Camões a Pessoa: a viagem iniciática
rev. Maria Isménia Peres | pref. Luciano Reis.
Lisboa : Sete Caminhos, 2006.
73 p. : il. (21cm)

Um livro "sobre a Mítica e Mística 
da História de Portugal".

Conjunto de trinta e uma obras plásticas
 da autoria de Ellys, pintora e ensaísta,
em torno de duas das maiores personalidades da literatura portuguesa.


O mar atinge-nos | CD. 
Com reprodução integral no Youtube.
Portugal: Metro Som, 2009. 
Poemas ditos por Maria Azenha 
com acompanhamento à guitarra portuguesa de 
Octávio Sérgio, Manuel Mendes, Gentil Ribeiro, 
Armindo Fernandes, Manuel Gomes, 
António Jorge e Carlos Ligeiro.




para saber +


Maria Azenha

Maria Estela Guedes entrevista Maria Azenha
in Revista Triplov (inverno 2020-2021)


Adelto Gonçalves
in Opção cultural, 20.09.2025

Adelto Gonçalves
in Poesia, vim buscar-te, 2.09.2025

Maria Estela Guedes
Na Casa de Maria Azenha
Lisboa: Edições Esgotadas, 2025

Maria Estela Guedes
in Ana Maria Haddad Baptista, Rosemary Roggero & Ubiratan d’Ambrosio (orgs), 
Signos artísticos em movimento, São Paulo: BT Acadêmica, 2017
- Repod. em Revista Triplov.









Redação: 27.09.2025

Arquivo cronológico