2016/04/08

Enquanto quis Fortuna que tivesse - soneto camoniano.

Do filme "Camões" de Leitão de Barros


Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co tormento,
para que seus enganos não dissesse.


Ó vós, que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,


verdades puras são, e não defeitos...
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.

Luís de Camões


Fonte:
Lírica completa - II [Sonetos], org., pref. e notas de Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 25.

2016/04/07

Eu cantarei de amor tão docemente, - soneto camoniano

O nascimento de Vénus (1754) por François Boucher


Eu cantarei de amor tão docemente,
por uns termos em si tão concertados,
que dous mil acidentes namorados
faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
pintando mil segredos delicados,
brandas iras, suspiros magoados,
temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
de vossa vista branda e rigorosa
contentar-me-ei dizendo a menos parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
a composição alta e milagrosa,
aqui falta saber, engenho e arte.

Luís de Camões



Fonte:
Lírica completa - II [Sonetos], org., pref. e notas de Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 27.


2016/04/06

Busque Amor novas artes, novo engenho - soneto

Fonte da imagem: Bloggs74

Busque Amor novas artes, novo engenho
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê:

que dias há que na alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como; e doi não sei porquê.

Luís de Camões

Fonte:

Lírica completa - II [Sonetos], org., pref. e notas de Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 296.


2016/04/02

"A fermosura desta fresca serra", soneto de Luís de Camões

"Praia das Maças", 1918 - por José Malhoa















A fermosura desta fresca serra
e a sombra dos verdes castanheiros,
o manso caminhar destes ribeiros,
donde toda a tristeza se desterra;

o rouco som do mar, a estranha terra,
o esconder do sol pelos outeiros,
o recolher dos gados derradeiros,
das nuvens pelo ar a branda guerra;

enfim, tudo o que a rara natureza
com tanta variedade nos of'rece,
me está, senão te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enjoa e me avorrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando,
nas mores alegrias, mór tristeza. 

Luís de Camões


Fonte:
Lírica completa - II [Sonetos], org., pref. e notas de  Maria de Lurdes Saraiva, 2.ª ed., revista, Lisboa: INCN, 1994, p. 212.

2016/03/18

Fome e Saciedade na obra de Luís de Camões, palestra por José Augusto Cardoso Bernardes





Fome e Saciedade na Obra de Luís de Camões

PALESTRA

por José Augusto Cardoso Bernardes
Diretor da Biblioteca Geral da U. Coimbra



18 MARÇO 2016 | na Casa da Escrita, Coimbra

Palestra, às 20h | Entrada livre
Jantar, às 21h | Inscrição Obrigatória


Organização:

Sabores da Escrita
em parceria com
Projeto DIAITA  - Património Alimentar da Lusofonia





"Embora na obra de Luís de Camões se encontrem 
alusões a vários tipos de iguarias e ementas, 
pode dizer-se que esta se caracteriza sobretudo 
pela ideia de carência (ou de “fome”). 
Em sentido amplo, a escrita camoniana é assinalada por uma forte dialética, centrada nas ideias de fome e de saciedade.
A presente palestra visa justamente sublinhar a presença estruturante 
destes dois sentidos ao longo da Lírica e da Épica do nosso poeta maior."


EMENTA DO JANTAR


Antipasto:

Pão
Picado de vaca
Galinha recheada com espargos

Sobrepasto:

Biscoitos com “conservas de doces”
Desfeito de carneiro
Peixes de molho
Escabeche de pescado

Pasto:

Caldo de peixe
"Vinhos odoríferos” e outros manjares
Licor com canela

Jantar confecionado e servido pelos SASUC, 
sob coordenação do Chef Luís Lavrador

Colaboração: Viv’Arte





2015/06/11

Breve biografia de Camões, por José Carlos Canoa

A vida e a obra



Retrato do poeta, c. 1573/5,
por Fernão Gomes (1548-1612)



Luís Vaz de Camões terá nascido em Lisboa, cerca de 1524, e faleceu na mesma cidade, a 10 de junho de 1580.

Poeta (épico e lírico), dramaturgo e epistológrafo.

Camões é um dos maiores poetas do mundo, em língua portuguesa e de todos os tempos.





Filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá Macedo, Luís de Camões terá ido para Coimbra, onde o tio, D. Bento, prior do Mosteiro de Santa Cruz e cancelário da Universidade, o terá orientado na sua educação.

Ainda jovem (provavelmente entre 1547-1549), esteve como militar em Ceuta, no norte de África, onde vítima de um incidente perderá a visão no olho direito (numa carta, antes da sua partida para a Índia, refere-se a este facto, bem como na canção “Lembrança da longa saudade”).

Em Lisboa terá levado uma vida de estroinice, tendo sido preso na cadeia do Tronco da cidade por ter brigado, ele e outros companheiros seus, com um servidor do paço. É perdoado por D. João III em 1553, partindo então para o Oriente.



Retrato do poeta pintado em Goa, 1581.




Viveu durante dezassete anos no Oriente.
Terá participado, em novembro de 1553, numa expedição à costa do Malabar e, entre fevereiro e outubro de 1555, terá sido incorporado no cruzeiro ao estreito de Meca, efetuado pela armada de Manuel de Vasconcelos.

Do período na Índia, conhece-se uma ode laudatória, “Aquele único exemplo”, dedicada a Garcia de Orta (texto que aparece nos Colóquios dos Simples e Dro­gas, Goa, 1563) e o Auto de Filodemo, peça teatral que foi levada à cena em Goa, durante os festejos que celebraram o assumir do cargo de governador da Índia por Francisco Barreto, a 16 de junho de 1555.

Depois das duas expedições à costa do Malabar e no estreito de Meca, Luís de Camões passou um período em Macau. Naufragaria nas costas do Camboja (a­tual Vietname) conseguindo salvar a nado o manuscrito d' Os Lu­síadas (cf. Canto X, 128).

Provavelmente em 1556, Camões foi desobrigado do serviço militar, tendo depois aceitado o desempenho de funções públicas.

Cerca de 1568, parte rumo a Moçambique onde Diogo do Couto o encontra vivendo em grande penúria (COUTO: 1786, Década IX, cap. 20). Aí, passava então o tempo a aperfeiçoar a sua epopeia e a escrever o Parnaso de Luís de Ca­mões, livro que lhe terá sido furtado. Couto e outros amigos do poeta pagam-lhe as dívi­das e a viagem, para que este regresse ao Reino natal.

Luís de Camões e os amigos viajantes arribam ao porto de Cascais na primavera de 1570 (COUTO: 1786, Década VIII, cap. 28).

Os Lusíadas, 1572


Um ano depois, a 24 de setembro de 1571, Camões obteve do rei D. Sebastião a licença e o privilégio para a impressão de Os Lusíadas durante dez anos. De facto, em 1572, o seu livro é impresso pela primeira vez, em Lisboa.

A 28 de ju­lho de 1572, o rei concede a Luís de Camões uma tença anual de 15.000 réis, pelos serviços prestados na Índia e provavelmente para o compensar pela publicação da epopeia lusa. Mesmo após a morte do poeta, a 10 de Junho de 1580, em Lisboa, a sua mãe continuará a beneficiar desta tença, por ordem de Filipe II de Espanha.

Para além de Os Lusíadas (1572) e de três composições poéticas publicadas avulsamente (a ode dedicada a Garcia de Orta – “Aquele único exemplo”, 1563; a elegia “Depois que Magalhães teve tecida” e o soneto «Vós ninfas da gan­gética espessura”, 1576), as edições que conhecemos da obra do poeta são todas edições póstumas.

Filodemo, teatro.
A obra dramática de Camões, Anfitriões e Auto de Filodemo, aparece-nos integrada na coletânea Primeira parte dos autos e comédias portuguesas (Lisboa, 1587), embora se saiba que o segundo texto, o auto, foi levado à cena em Goa, em 1555. 
Rimas, 1595 (obra póstuma)

A autoria da comédia El Rei Seleuco tem sido atribuída a Camões e este texto dramático foi publicado pela primeira vez em acréscimo à edição das Rimas: primeira parte, reeditadas em Lisboa por Paulo Craesbeeck, em 1645.
A primeira edição da lírica camoniana, integrando os seus sonetos mas igualmente outros géneros líricos,  surge em Ri­mas (Lisboa, 1595), obra póstuma composta a partir de cancioneiros manuscritos.


A fortuna crítica da obra de Luís de Camões é imensa e os seus poemas estão traduzidos em muitas línguas do mundo.

A 10 de junho, comemora-se o Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas.

Camões lendo Os Lusíadas (1925), por António Carneiro.




2015/06/10

Nos passos de Camões, por José Hermano Saraiva

Nos passos de Camões






Documentário biográfico, de 25 min., a cores, 
apresentado na série da RTP2 "Horizontes da Memória".
Produção de José António Crespo.

Programa que o professor José Hermano Saraiva 
consagra inteiramente ao que designa como sendo "a pobre vida" de Luis de Camões,
focando sobretudo a passagem do poeta por Macau.



Fontes: RTP Arquivos.




Quem és tu, Luís Vaz? - documentário, em RTP Ensina

Quem és tu, Luís Vaz?








Documentário biográfico, de 55 min., a cores, 
apresentado na série da RTP2 "O lugar da História".

Mostra a biografia do poeta Luís Vaz de Camões (c.1524-1580), 
fazendo alusão aos episódios mais marcantes da sua vida e aos locais por onde passou e viveu.

Contém depoimentos de diversos investigadores camonistas como 
Vasco Graça Moura, Aníbal Pinto de Castro, Vitalina Leal de Matos, 
Justino Mendes de Almeida, Rui Loureiro, Aníbal Almeida.


No programa também é comentada a sua epopeia, "Os Lusíadas" (1572).








2015/05/10

Imaginar “Os Lusíadas” como um jogo de xadrez, preto no branco, como o concebeu o grupo de teatro Mar Alegre





Lusíadas Preto no Branco

por

Grupo de Teatro MarAlegre


Centro Cultural de Ílhavo
8 de maio de 2015
Duração: 60’


Autor: 
Luís Vaz de Camões

Adaptação: 
Anabela Mateus e Paula Gomes


Conceção, Dramaturgia, Encenação, Seleção musical, Figurinos, Adereços Cenografia:
Anabela Mateus e Paula Gomes

Intérpretes:
Grupo de Teatro MarAlegre
Participação Especial:
Alunos da Ginástica de Grupo

Apoios:
Câmara Municipal de Ílhavo
Agrupamento de Escolas de Ílhavo
Confraria Camoniana
CIEC da Universidade de Coimbra






Integrado no Festival de Teatro do Município de Ílhavo, o grupo de teatro MarAlegre apresentou o seu espetáculo: a partir da epopeia de Camões recriou “num tabuleiro de xadrez as aventuras e desventuras de um povo que, por 'mares nunca dantes navegados' chegou a terras longínquas.

Assim, num duelo entre o bem e o mal, reis, marinheiros, deuses, ninfas, guerreiros, são transformados em peças do jogo de xadrez que ora avançam, ora recuam, a caminho do Oriente... Colocar “preto no branco” a obra de quem canta os feitos gloriosos do povo lusitano, é o desejo do Grupo de Teatro MarAlegre.

Imaginar “Os Lusíadas” como um jogo de xadrez através de um tabuleiro que se torna um palco, é colocar as peças como jogadas pensadas por Camões, num duelo entre o bem e o mal, numa jogada de mestre.”






O Clube Teatro MarAlegre:

O Clube de Teatro MarAlegre foi fundado em 2007 na Escola Básica José Ferreira Pinto Basto.

Entre as suas peças de inspiração clássica contam-se "Shakespeare em 4 Telas" (2009), "Odisseia de Homero… e não só!” (2010, 2011), “Heróis do Mar” (2012) e, em 2015, “Lusíadas Preto no Branco”, que foi apresentada no Centro Cultural de Ílhavo no âmbito do Festival de Teatro do Município.

No âmbito do ciclo de conferências promovido pela Confraria Camoniana de Ílhavo no Museu Marítimo municipal, em 22 de novembro de 2014, o Clube apresentou “As Tágides de Camões”, complementando dramaticamente a palestra “As musas tagídeas de Camões na obra de Columbano Bordalo Pinheiro” proferida por Milton Pacheco.






1. Convite para a exibição da peça, pelo grupo Mar Alegre.
2. Guião de peça utilizado durante os ensaios. (foto, in Facebook)
3. Maquilhagem preparativa das Ninfas. (ibidem)
4. Cena da peça "Lusíadas, preto no branco" pelo grupo teatral MarAlegre. (ibidem)







Lusíadas Preto no Branco. – Peça teatral adaptada de “Os Lusíadas” por Anabela Mateus e Paula Gomes e interpretada pelo Grupo de Teatro MarAlegre, o clube de teatro da Escola Básica José Ferreira Pinto Basto. – Ílhavo, Centro Cultural de Ílhavo, 8.05.2015. – [Duração: 60’; público-alvo: público em geral e alunos a partir do 2.º ciclo de escolaridade.



2011/04/23

A poesia lírica de Luís Vaz de Camões, por Ana Isabel Buescu e Vasco Graça Moura

[Clique na imagem para ver o vídeo]

Poesia lírica, de Luís Vaz de Camões

com

Ana Isabel Buescu e Vasco Graça Moura

 

no programa Nós e os Clássicos, emissão 1, em 23.04.2011

de Filipa Melo

programa de cultura emitido semanalmente na SIC Notícias.





EQUIPA
Autoria e apresentação: Filipa Melo
Voz off: Elisabete Caramelo
Realização: Fernando Vendrell
Layout e design: David Gabriel / Roughcut
Logotipo: Jorge Silva / Silva! Designers
Edição vídeo: Micael Espinha / Roughcut
Edição áudio: João Eleutério / Armazém 42
Maquilhagem: Lígia Bento, Renata Figueiredo
Imagem: João Soares, Fred Rolim
Produção: Bruno Jerónimo
Produção: MBTv