2025/12/16

Os Soldados Práticos



 Os manuscritos  


  Dialogo do Soldado Pratico, 
que trata dos enganos, e desenganos da India,  

feito por Diogo do Couto chronista, e guarda mor da Torre do Tombo da India

[Manuscrito, texto Integral do 2.º e do 1.º diálogos]

Códice encadernado, s/d | [PDF]
conservado na Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, 
sob cota A. 1752. 1.º texto = 2.º Diálogo, pp. 1-204; 
2.º texto = 1.º Diálogo, pp. 205-356.

Editado pela ACL em 1790.



  Dialogo do soldado pratico  
  q[ue] trata dos enganos e desenganos da India  

feito por Diogo do couto Cronista e guardãmor da torre do tombo na India 

[Manuscrito, texto integral do 2.º diálogo], 1612
[86] f., enc. (26 cm)

Editado nos Clássicos Sá da Costa, em 1937.


 1.ª ed. impressa dos dois diálgos  

 Observações sobre as principaes causas da decadencia dos portuguezes na Asia, 

escritas por Diogo do Couto, 
em fórma de dialogo, com o titulo de Soldado Pratico, 
publicadas de ordem da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 
por Antonio Caetano do Amaral, Socio Effectivo da mesma. 

LISBOA na Offic. da Acad. Real Das Sciencias, Anno M.DCCXC. [1790] 
Com licença da Real Meza da Commissaõ Geral sobre 
o Exame, e Censura dos Livros.

xiv, [ii], 161, [i br.], 113, [i br.] págs. (20x13 cm)


"Primeira edição impressa dos dois diálogos que compõem o Soldado Prático de Diogo do Couto, com base no manuscrito A-1572 da Academia de Ciências de Lisboa, que permaneceu por editar durante cerca de 200 anos. [...]

Introdução de António Caetano do Amaral, nas páginas preliminares, seguindo-se duas páginas não numeradas com uma carta de Diogo do Couto a Diogo da Silva e Mendonça, então Conde de Salinas e Ribadeo e Duque de Vila-Franca, e posteriormente vice-rei de Portugal. A carta é datada de 20 de dezembro de 1611. Seguem-se então os dois diálogos, cada um com paginação independente, constando em primeiro lugar o segundo diálogo. As páginas 111 a 113 do último diálogo incluem um catálogo de obras vendidas pela Academia que não consta em muitos exemplares, como é exemplo o digitalizado pela Biblioteca Nacional.

O Soldado Prático, obra complexa e crítica de Diogo do Couto, é fundamental para a compreensão dos problemas da administração colonial portuguesa na Índia no século XVI e constitui uma importante fonte histórica. Marco na historiografia e literatura da época.

É importante esclarecer que existem dois diálogos distintos com o título Soldado Prático, ambos escritos por Diogo do Couto. O primeiro diálogo, mais curto e com uma linguagem popular, encontra-se no manuscrito A-1572 da Academia de Ciências de Lisboa. Este diálogo, otimista e descrito, apresenta apenas dois personagens: o soldado e o fidalgo. O segundo diálogo, mais longo, complexo, erudito e com um tom de dissertação moral e cívica, encontra-se em duas versões: uma no mesmo manuscrito A-1572 da Academia de Ciências de Lisboa e outra no manuscrito n.º 463 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Tem três intervenientes: um soldado experiente, um fidalgo (que foi governador da Índia), e um despachador da Casa da Índia.

A obra retrata a decadência da empresa oriental portuguesa na Índia, expondo a corrupção e a ineficácia do sistema colonial. O soldado prático, um alter-ego do próprio Couto, critica a política de nomeação de vice-reis para mandatos curtos de três anos, o poder excessivo que detinham, a nomeação de fidalgos sem experiência, e a intervenção da igreja na política. Couto também critica a subordinação das armas ao comércio e o sistema de pagamento de soldos. Para além da exploração das minas de ouro de Monomotapa, o autor sugere como solução um mandato de seis anos para os vice-reis, a extinção da capitania-mor do mar da Índia, o reforço da expansão militar, a mudança da capital para Baçaim, e a criação de bases cívicas e sociais para a cultura portuguesa na Índia. Couto defende ainda uma política de casamento que proteja as mulheres, viúvas e órfãs.

O manuscrito original do Soldado Prático, redigido por volta de 1564, durante o reinado de D. Sebastião, foi roubado a Diogo do Couto na Índia. Apesar desse infortúnio, cópias manuscritas da obra circularam tanto em Portugal como na Ásia, o que demonstra o interesse suscitado pelas suas ideias e críticas. Tendo conhecimento da circulação do seu manuscrito, Couto reescreveu e melhorou a sua obra, o que resultou em diferentes versões do Soldado Prático. A segunda versão foi composta para publicação no início do século XVII, depois de Couto ter sido informado que a primeira versão continuava a circular em manuscrito.

O Soldado Prático apresenta-se como um manual de governança, expondo os males do sistema e as soluções para a sua melhoria. A obra, especialmente na sua segunda versão, reflete a desilusão de Couto com a possibilidade de reforma do sistema colonial, sentimento partilhado por outros autores contemporâneos como Luís de Camões.

Embora o Soldado Prático tenha tido algum sucesso na sua circulação manuscrita, o seu impacto histórico foi maior após a morte de Couto. A obra tornou-se um dos textos mais importantes sobre a decadência do Império Português no Oriente, influenciando o pensamento e a historiografia posterior. 

Apesar de não ter alcançado publicação em vida do autor, a obra serviu de inspiração para outros trabalhos, como o Primor e Honra da Vida Soldadesca no Estado da Índia (1578) e a Reformação da Milícia e Governo do Estado da Índia Oriental (início do século XVII).

O discurso decadentista do Soldado Prático ecoa nas Décadas da Ásia e nas Orações de Couto, consolidando a sua visão crítica da administração portuguesa na Índia. Este impacto tardio deve-se, em grande parte, ao facto de o contexto político e social do século XVII se ter mostrado mais recetivo às críticas de Couto, num momento de crise e desilusão, em consequência do desastre de Alcácer-Quibir e da crise dinástica."



  Edição da Livraria Sá da Costa Editora, em 1937  

O SOLDADO PRÁTICO / Diogo do Couto

[Edição integral do 2.º diálogo]

Texto restituído, prefácio e notas pelo professor M. Rodrigues Lapa
Colecção  deClássicos Sá da Costa.
Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1937
XXXII-251 p. (25 cm) 
Il. com um retrato de Diogo do Couto.

2.ª ed., 1954. | 3.ª ed., 1980. | 4.ª ed., rev. António Esteves, 2008.

“A nossa edição tomou por base o manuscrito nº 463 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Tem a garantia de ser revisto (até certa altura) e parcialmente escrito pelo próprio Couto. O texto é agora restituído, com grande diferença da única edição de 1700, dirigida por António Caetano do Amaral [...].

O texto que apresentamos é pois, em nossa consciência, o verdadeiro texto de Couto: traz a sua marca popular, a sua rudeza, a sua sinceridade, o tom vivo e por vezes não gramatical da conversação. É a esse respeito um documento de primeira ordem para a história da língua.”
 
Manuel Rodrigues Lapa
Do prefácio


  Edição da Europa América, em 1988  

 O SOLDADO PRÁTICO | Diogo do Couto 

[Edição integral do 2.º diálogo]

Introdução, atualização de texto e notas de Reis Brasil

 Mem Martins: Europa-América, 1988

143 p. (23x15cm)

"O Soldado Prático de Diogo do Couto, publicado originalmente no século XVII é um texto que oferece uma visão crítica sobre as práticas militares e administrativas no Estado da Índia, refletindo sobre as dificuldades e desafios enfrentados pelos soldados portugueses no Oriente.​

A edição com introdução, atualização de texto e notas de Reis Brasil visa tornar o texto mais acessível ao leitor contemporâneo, contextualizando as observações de Couto e esclarecendo referências históricas e culturais da época. Esta versão atualizada proporciona uma compreensão mais profunda das críticas e sugestões apresentadas por Couto, destacando a relevância histórica da obra."
Ver contracapa


  Edições críticas de cada diálogo, em 2001 e 2009  


  O primeiro soldado prático  

Introdução, ensaio de leitura, glossário e índice onomástico 
por António [Antero] Coimbra Martins

rev. Francisco Paiva Boléo; 
ed.lit. Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses
Lisboa: CNCDP, 2001. 
665 p.


  O soldado prático  

[Edição integral do 2.º diálogo]

Ed. Ana Maria García Martín


Col. "Biblioteca Lusitana: Clássicos de Língua Portuguesa"






  Diogo do Couto  

(Lisboa, 1542 – Goa, 1616) 
"foi um humanista renascentista que aliou a carreira militar à literária, deixando um legado literário fundamental para a compreensão da história do Império Português e para o estudo da literatura portuguesa do século XVI.

Filho de Gaspar do Couto, um novo fidalgo sem linhagem anterior que servia o Infante D. Luís, os seus primeiros anos de vida foram marcados pelo serviço na casa do Infante D. Luís, onde também se iniciou aos dez anos. 

Teve uma formação notável, com o padre Manuel Álvares como mestre de latim, um famoso gramático da Companhia de Jesus. Recebeu também lições de retórica dos padres Cipriano Soares e Francisco Rodrigues, conhecido como "o Manquinho," e de esfera (geografia) com o padre Francisco Rodrigues. Após esses estudos iniciais, Couto frequentou o mosteiro de Benfica, onde estudou filosofia com Frei Bartolomeu dos Mártires, um homem considerado um dos mais sábios e virtuosos da sua época. Durante este período, foi companheiro de estudos de D. António, filho do Infante D. Luís e futuro Prior do Crato. 

Após a morte do Infante D. Luís em 1555, e pouco depois, a do seu pai, Diogo do Couto partiu para a Índia em 1559, em busca de honra e proveito.

Na Índia, Couto serviu como soldado, participando em ações militares como a jornada de Surrate em 1561 e a ocupação de Mangalor em 1568. 

Desenvolveu amizade com o vice-rei D. Antão de Noronha, com quem regressou a Portugal em 1569 para apresentar os seus serviços a D. Sebastião e, possivelmente, apresentar a primeira versão do seu Soldado Prático

Em 1571, voltou à Índia com D. António de Noronha, que se tornou vice-rei, e foi nomeado feitor dos armazéns de Goa. Após um período de afastamento do poder político durante o governo de António Moniz Barreto, Couto manteve relações com outros governadores e vice-reis. 

Casou-se com D. Luísa de Melo, e mais tarde, destacou-se como cronista da Ásia. Na Índia, reencontrou o seu «especial amigo» Luís de Camões, com quem tinha estudado em Portugal. Há indícios de que Couto, durante a sua estadia na Índia [sic - No seu regresso ao Reino com estadia na Ilha de Moçambique], pode ter comentado Os Lusíadas a pedido de Camões. Em 1569, tanto Couto como Camões regressaram a Portugal na mesma embarcação.

Nos últimos anos da sua vida, Diogo do Couto dedicou-se intensamente à escrita das Décadas da Ásia, tornando-se orador oficial em eventos de novos vice-reis. Foi nomeado Guarda-Mor da Torre do Tombo de Goa e Cronista-mor da Índia em 1595, sucedendo a João de Barros. 

Como cronista, Couto enfrentou resistências e desconfianças devido à sua honestidade e rigor histórico, o que o levou a ter «muitos desgostos com soldados e capitães». Teve dificuldades em obter documentos para escrever as Décadas, e o seu trabalho foi por vezes dificultado pela má vontade de algumas figuras de poder. 

Apesar de ter alcançado um estatuto político consolidado, continuou a criticar o sistema, refletindo sobre os problemas e a decadência do Estado da Índia, uma preocupação que já se manifestava na sua primeira obra, o Primeiro Soldado Prático

Faleceu em 1616, deixando um legado de importantes obras que revelam a sua visão crítica e o seu profundo conhecimento dos assuntos do Oriente."


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Redação: 15.12.2025

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