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Agostinho da Silva Imagem Associação Agostinho da Silva, no Facebook. |
"Naquela Ilha dos Amores
que sonhou Camões outrora
só entra e fica liberto
quem lá viva desde agora"
Agostinho da Silva
In: Quadras inéditas, p.72.
"Se o ideal último do Português é reconquistar o Paraíso
e entrar naquele despojar-se de espaço e tempo
a que Luís de Camões preludiou com a Ilha dos Amores,
serão dispensáveis as guerras
e terão sido os melhores militares os que têm visto a sua missão
como sendo essencialmente a de manutenção da Paz,
para que o mundo se vá construindo,
não os que são tentados pelas aventuras
ou pelos lucros das guerras."
Agostinho da Silva
In: Educação de Portugal, 1970.
“E o que é a Ilha dos Amores?
É o Império do Espírito Santo entre os homens.
É não perder nenhuma das características de ser homem
e ganhar todas as que se atribuem a Deus.
Porque os homens ali, como se vê pelo seu comportamento com as ninfas,
são plenamente homens, comem e bebem no banquete,
mas depois estão fora do Tempo, e fora do Espaço, como está Deus.
Fora do Tempo, de toda a História, de toda a Eternidade;
e fora do Espaço, que a máquina do mundo está lá mas como o Espaço,
todo ondulante, sai todo da máquina do mundo,
os cavalheiros estão fora da máquina do mundo.
São homens e divinos ao mesmo tempo.
Camões acha que o ideal do Português é chegar a um estado em que
aquilo que se mantém hoje separado, ou é até contraditório,
[aparece como] uma parte, a outra parte do mesmo universo.
É o lado luminoso e o lado oculto da Lua
conforme a posição em que cada um estiver a olhar para a Lua,
ou tiver imaginação para imaginar que coisa será o luar do lado onde não há luar”
Agostinho da Silva
in Ir à Índia sem abandonar Portugal:
Considerações: Outros Textos, 1994, p. 48.
[Entrevista de 1987].
"Provavelmente ainda levará muito tempo para isso,
mas tenho esperança, tenho esperança de
que se estabeleça na Terra um paraíso terreal,
de que, pela meditação, os homens cheguem a
um tempo em que o paraíso terreal e o espiritual, o do Céu,
sejam exactamente a mesma coisa
- a tal história de que já falámos da Ilha dos Amores de Camões,
em que o homem deixa que brote de si tudo quanto é de possibilidade divina
ao mesmo tempo que não perde nada da sua humanidade,
o que significaria, no fim de contas, um regresso de Adão e Eva ao Paraíso"
Agostinho da Silva
(com Henryk Siewierski)
In: Vida conversável,
Zéfiro, 2020, p.186.
"[...] nós podemos dizer que todo o culto do Espírito Santo era uma peça de teatro:
primeiro acto, a coroação do imperador;
segundo acto, o banquete gratuito;
terceiro acto, abrir a porta da cadeia.
E que era realmente uma peça através da qual a pessoa tinha que entender
que o importante dentro dela era nunca dar cabo
do imprevisível, do espontâneo, do poético e do criador dentro da pessoa,
e que era para isso que a coisa vinha e existia.
É que o Camões depois já põe aquilo como um caminho para a vida.
Que coisa é preciso fazer para chegar à Ilha dos Amores?
Pois, é preciso navegar com muito saber, com muita disciplina
e, ao mesmo tempo, com muita curiosidade pelo que se vai descobrir,
muito amor pela novidade,
muito cuidado perante o que sucede, muito gosto de aventura, claro,
e muito bom humor."
Agostinho da Silva
(com Henryk Siewierski)
In: Vida conversável,
Zéfiro, 2020, p. 224.
"Como intitularia então eu o poema de Camões […] ?
Pois Viagem do Nada que nós somos, por Tudo sermos,
ao Tudo que são todos sendo Nada.
Um pouco comprido, valha a verdade,
e talvez um seu tanto confuso;
afinal bem fez ele chamando-o apenas de
Os Lusíadas, isto é de Os Portugueses;
que aqui onde escrevo estes apontamentos
para futuros e verdadeiros historiadores,
pois nada mais sou do que amador de casos,
ou no Brasil ou na África, sempre Portugueses ou Lusíadas somos:
é a Língua nossa raiz e nossa fronde, nossas flores e nossos frutos, vida nossa e nossa morte,
cumprindo-nos fincar um pé num dos lados do mundo, outro no mais distante
— se é que lados tem —, ao universo medindo e limitando
com este nosso passo sem limite"
Agostinho da Silva
"De como os portugueses retomaram a Ilha dos Amores [1982],
in Dispersos, p.736-738.
para saber +
As citações constam em:
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Redação: 3.03.2025