Congresso Internacional Reescrever o século XVI: Questões de Gênero em Camões, do peito feminil ao homoerotismo
CONGRESSO INTERNACIONAL
15 e 16 OUT. 2024
Em formato híbrido:
Presencial: Prédio de Letras da Universidade de São Paulo | Online
Organização:
Grupo de Pesquisa "Reescrever o século XVI", Universidade de São Paulo/ CNPq
Grupos de Trabalho "Camões no Mundo" e "Camões, muda poesia e emblemática", CIEC/Universidade de Coimbra
O evento realiza-se com o apoio institucional de:
U. São Paulo / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas / Dep. de Letras Clássicas e Vernáculas,
no âmbito do Grupo de Pesquisa "Reescrever o século XV"I (CNPq/USP).
Submissão de propostas:
Enviar resumo da intervenção e nota curricular
para mmaf@usp.br com
Data limite: 31 ago. 2024
Participações em português e inglês,
não sujeitas a pagamento de inscrição.
"[...] permanece inquestionável o interesse renovado suscitado pela sua poesia, no que tange às questões de gênero, uma vez que é multifacetada a sua representação do “peito feminil”, também ilustre, assim como do tema homoerótico.
Na poesia lírica, Camões soube dialogar com a tradição petrarquista, explorando a combinação de atributos herdados dos modelos peninsulares e dos códigos classicizantes no âmbito da imitatio renascentista, mas conseguindo fugir tanto à deificação da mulher que implica a sua redutora desumanização quanto ao esquecimento da tópica bucólica do amor entre pastores e pastoras. É sobejamente conhecido o caráter pioneiro de cantar, ainda que de um ponto de vista colonialista, a beleza de uma mulher negra e escrava nas endechas a Bárbora. O amor entre homens e mulheres foi cantado pelo poeta mas também o amor entre iguais foi encenado no seu drama pastoril e satirizado no Convite que fez a certos fidalgos em Goa.
No teatro, Camões soube dar protagonismo a figuras femininas pertencentes a diversos estamentos da sociedade de corte. Na poesia de salão, ou de circunstância, damas da nobreza e realeza ibérica e portuguesa foram cantadas, como a Princesa de Portugal. Nas cartas em prosa, a prostituta de Lisboa ou das Índias é alvo da sátira camoniana. Na lírica, a mulher de muitos amantes é figurada como Circe, fera humana e loba. Mas importa também lembrar relevantes sinais de retratos não convencionais e até de empoderamento feminino n’ Os Lusíadas. Além da intervenção política da “fermosíssima Maria”, a ninfa Tétis rejeita o gigante Adamastor, que é transformado em rocha e condenado à tortura de a ver nadar livremente em seu redor. A deusa Tétis, por sua vez, não acompanha o Gama na viagem de retorno a Portugal. A Deusa Giganteia com uma centena de bocas difunde a gesta portuguesa pelo globo. Cumpre igualmente sublinhar o conteúdo das palavras dirigidas a Bóreas pela ninfa que o repreende, no episódio da Tempestade (Lus.VI, 89, 4-8). Deste modo, privilegia-se o enamoramento e os jogos de sedução a que assistimos na Ilha dos Amores, numa postura que condena o amor forçado, o assédio e a violação, aproximando-se da visão moderna sobre a vivência amorosa por meio da emulação de mitologemas, imagens e figuras antigas mas também por uma intervenção cívida em prol da mulher no século XVI.
Quais as individualidades femininas que se libertaram da “lei da morte”?
Que memória persiste dessas figuras verdadeiramente excepcionais?
Como conseguiram escapar à sentença tradicional que as destinava ao casamento ou ao convento, constituindo verdadeiras excepções a regras?
Que testemunhos deixaram?
Como desafiaram as convenções sociais com as suas ideias e os seus exemplos inspiradores?
Como foram retratadas pelas artes e pelo registro historiográfico?
Como pode a crítica literária fomentar o resgate das questões de gênero na obra de Camões para a história cultural do século XVI, fora da interpretação iluminista e romântica, incluindo a tópica sodomita e a amizade socrática entre preceptor e discípulo?
Este congresso se concentra nas questões de gênero presentes na obra camoniana e também convida ao estudo da mentalidade que embasou a fortuna crítica e/ou poética dessas temáticas, seja no momento atual, seja em outros períodos históricos nos quais foi interpretada de acordo aos valores e desejos dominantes em cada época. Lembremos a interpretação que fez escola no século passado, de José Maria Rodrigues: a corte de Camões à princesa D. Maria como a causa da sua desdita. Antes interessa mostrar a corte de mulheres letradas em torno da filha caçula de D. Manuel.
Convidamos as investigadoras e os investigadores a apresentarem propostas de comunicações neste âmbito, de modo a promover o diálogo interdisciplinar, com base na pluralidade de abordagens teóricas e áreas científicas: Literatura, História, Estudos Culturais, Sociologia, História da Arte, Estudos Feministas, Estudos Homoeróticos, Direito, História da Ciência, Música, Dança, Geografia etc.."
"[...] permanece inquestionável o interesse renovado suscitado pela sua poesia, no que tange às questões de gênero, uma vez que é multifacetada a sua representação do “peito feminil”, também ilustre, assim como do tema homoerótico.
Quais individualidades femininas empoderadas pelo poeta se libertaram da “lei da morte”? Que memória persiste dessas figuras excepcionais, como a Princesa de Portugal, a fermosíssima Maria ou Francisca de Aragão? Qual a função das figuras mitológicas, de ninfas e deusas, como Tétis, Circe, a Deusa Giganteia ? Como avaliar a fala da Ninfa a Bóreas? O que significa cantar a beleza de uma escrava negra? Ou as suas cartas em prosa nomearem damas lisboetas do bordel que o poeta crismou Mal-Cozinhado?
Quem são os amigos nomeados e destinatários de suas cartas em prosa? Quais personagens da História Antiga e Mitologia são lugares homeróticos citados por Camões? Heliogábalo, Sardanapalo, Nero, Jacinto, os mitos de Apolo, Orfeu despedaçado, Hércules, entre outros – que função adquirem na economia erótica camoniana?
Por que não testar a hipótese ficcional de Pode um desejo imenso, de Frederico Lourenço, ao propor o amor platônico entre Camões e António de Noronha, e desnudar o homoerotismo pastoril renascentista em éclogas? 12 poemas integram o projeto da Antologia Homoerótica de Camões, entre a USP e a UMINHO, no conjunto de projetos de pesquisa de Reescrever o século XVI (CNPq/USP)."
Temas sugeridos
1
Damas, princesas e rainhas na obra & vida de Camões
2
Imitação da pastorícia homoerótica renascentista nas éclogas e discurso bucólico
3
Cavaleiros, Clérigos, Navegadores, Humanitas e o homoerotismo na sociedade de corte
4
Alegorias femininas na mitologia da sua obra
5
Os erotismos da Ilha de Vênus – concepções do amor e do desejo
6
As amadas de Camões para comentaristas, editores, críticos e historiadores historiadores do século XVI ao presente
7
Do bordel à servidão patriarcal: prostitutas, escravas, serranas e meninas na sátira amorosa de Camões
8
Releituras do peito feminil camoniano na literatura, pelas outras artes
Oradores confirmados:
Cristina Costa Gomes | U. Lisboa
Filipa Araújo | CIEC, U. Coimbra)
Luís Maffei | U. Federal Fluminense
Manuel Ferro | U. Coimbra
Marcia Arruda Franco | U. São Paulo
Micaela Ramon | U. Minho
Paulo Braz | U. Federal do Rio de Janeiro
Pedro Serra | U. Salamanca
Vanda Anastácio | U. Lisboa
Ana Carolina Alvarenga | USP
Gustavo Borghi | USP
Paulo César Ribeiro Filho | USP
Larissa Fonseca e Silva | USP
Luciana Brandão | USP
Maria Clara Crespo | USP
Larissa Stocco Gomes | USP
Sérgio Felisberto Junior | USP
PROGRAMA
Dia 15 de outubro | Na sala 107 (Presencial)
Com gravação e transmissão em tempo real
13h30
Inscrições de ouvintes
14h00 às 14h20
Abertura pela organização:
Grupo de Pesquisa CNPq/USP, Reescrever o século XVI e CIEC
Pausa de 10 minutos
1. Mesa de Abertura do Congresso | 14h20 às 15h30
Moderação: Marcia Arruda Franco
"Camões e a "feminil fraqueza", variantes na ilustração d' Os Lusíadas"
por Filipa Araújo | CIEC - UC
Francisca de Aragão
por Vanda Anastácio | CEC - FLUL
(Pausa de 5 minutos)
2. Sessões de comunicação
Sessão 1 | 15h35 às 16h40
Moderação: Lourival da Silva Burlamaqui Neto
"O peito lusitano e o peito feminil no coro da praia de Os Lusíadas:
a (in)constância sob o signo de Dido (e Eneias)"
por Marcello Peres Zanfra | USP
"D. Teresa de Leão no canto I de Os Lusíadas"
por Lourival da Silva Burlamaqui Neto | USP
"O lugar das amadas na construção da vida camoniana:
notas para a leitura da 'Vida do Poeta' (1639), de Manuel de Faria e Sousa"
por Gustavo Luiz Nunes Borghi | USP
Sessão 2 | 16h40 às 17h45
Moderação: Larissa Fonseca e Silva
"O avesso do bordado - Inês de Castro, de Canto, de Manto:
Releitura de Camões por Fiama Hasse Brandão"
por Andreiza Valéria de Oliveira Lemos | USP
"D'amor feridas": A diferença entre amor e desejo na Ilha dos amores"
por Rayana Rezende Gomes Demetrio de Vasconcelos Barros
"Releituras contemporâneas da Ilha de Vênus
em Gonçalo M. Tavares e Yara Nakahanda Monteiro"
por Larissa Fonseca e Silva | USP
(Pausa de 5 minutos)
3. Mesa de Fechamento da 1.9 Jornada (17h50 às 19h)
Moderação: Vanda Anastácio
"Homoerotismo na bucólica camoniana : "As doces cantilenas que cantavam"por Maria Clara Ramos Morales Crespo
"Homoerótica camoniana: do Hospital de Cupido a D. António de Meneses"por Marcia Arruda Franco | USP
Dia 16 de outubro | On-line
1. Mesa de Abertura da 2a Jornada (10h às 12h)
Moderação: Filipa Araújo
"Imago mentis: A amada como fantasma"
por Valeria Tocco | U. Pisa
'Baise m'encor, Rebaise-moi et Baise': Louise Labé as Renaissance Cougar?"
por Laurence Grove | U. Glasgow
"O ´romance de Leanor´"
Manuel Ferro | CIEC - UC
(Pausa para Refeição)
2. Mesa 1 | 13h30 às 15h30
Moderação: Paulo Braz
"Camões e a 'Pretidão de amor' ou a reinvenção da cor do desejo:
reflexões estéticas e apropriações político-ideológicas (sécs. XIX-XXI)"
por Paulo Pereira | FLUC
"Peitos inumanos, amores bárbaros"
por Paulo Braz | UFRJ
"Camões destro, Camões sinistro - Nữa mão sempre o quê?, e noutra o quê mais?"
por Luiz Maffei | UFF
(Pausa de 5 minutos)
3. Sessão de comunicações | 15h35 às 16h35
Moderação: Gabriel Fallaci
"Súplica e Sedução: uma leitura dos episódios femininos em Os Lusíadas, de Luís de Camões"
por Jonas Jefferson de Souza Leite
Camões: uma poesia transgressora do amor elevado
por Gabriel Fallaci Fernando | USP
Minando por vias decoloniais a autoridade literária de Os Lusíadas, de Camões
Marcos Vinicius Rodrigues
4. Sessão de Encerramento do Colóquio | 16h40 a 18h40
Moderação: Marcia Arruda Franco
"Diogo de Sá e Luís de Camões: a vida de dois humanistas navegadores"
por Cristina Costa Gomes | CEC - FLUL
Dimensões Queer na Poesia Lírica de Camões: Uma análise de alguns sonetos
por Simon Park | U. Oxford
José Emílio-Nelson & Camões: Relação e Géneros
por Pedro Serra | USAL
para saber +
"Texto da chamada" para comunicações, in Plataforma 9
[em .PDF]
Marcia Arruda Franco | Facebook, 18.07.2024
Programa | in CIEC no Facebook, 24.09.2024