2024/11/14

Apresentação da Programa das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões



Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões

APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA



14 nov. 2024, quinta-feira | às 17h00

No Auditório da BNP, em Lisboa


Entrada livre




"A Estrutura de Missão do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões 
promove esta quinta-feira, às 17h00, 
a Conferência “Camões no seu tempo e no nosso”, 
na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP).


A sessão, com acesso livre, inicia-se com 
a Conferência “Camões no seu tempo e no nosso”, 
proferida pelo Historiador Diogo Ramada Curto, 
Comissário-Geral adjunto da Comissão para as 
Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões 
e Diretor-Geral da Biblioteca Nacional de Portugal. 


Seguir-se-á a apresentação do Programa das Comemorações 
pelo Comissário-Geral e Professor Catedrático da Universidade de Coimbra 
José Augusto Bernardes. 

A Ministra da Cultura encerrará a sessão.

O Governo assumiu como prioridade este ciclo comemorativo, 
criando condições para celebrar a vida e obra do maior poeta da língua portuguesa,
designadamente prolongando o prazo por dois anos, até junho de 2026, 
e assegurando um orçamento adequado."

In Governo Português, Cultura | Facebook



PROGRAMA DO DIA



17h00
"Camões no seu tempo e no nosso"
CONFERÊNCIA 
por Diogo Ramada Curto


17h25
Programa das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões
e sítio na internet : www.luisdecamoes500.gov.pt

APRESENTAÇÃO
por José Augusto Cardoso Bernardes


17h40
ENCERRAMENTO DA SESSÃO 
pela Senhora Ministra da Cultura





Comemorar Camões. Objetivos de um programa


José Augusto Cardoso Bernardes
Comissário-geral das Comemorações do 
V Centenário do nascimento de Luís de Camões

"Mais do que uma obrigação, comemorar os 500 anos do nascimento de Luis de Camões corresponde a uma necessidade coletiva. Não foi preciso que os poderes públicos tivessem fixado um início oficial (10 de junho de 2024) para que surgissem iniciativas. Houve notícia de muitas celebrações, promovidas por universidades, escolas, fundações, autarquias. Aponto de se contarem já por muitas dezenas as exposições, congressos, ciclos de palestras que vêm tendo lugar em Portugal e noutros países, com natural realce para aqueles que têm o português como língua oficial. 

Como explicar este facto?

Em tempo de tantas incertezas, dir-se-ia que se torna útil recolocar no espaço público uma figura de convergência. E o pretexto não poderia ser melhor: uma efeméride redonda, correspondendo a meio milénio de vida do "poeta maior". Esse pretexto, porém, não poderia ficar-se por manifestações espontâneas, por muito positivas que estas sejam, tanto em número como em qualidade. Sentia-se a falta de um programa estruturado, com fundamentos e objetivos.

É essa a principal característica do documento que foi apresentado no passado dia 15 de novembro em sessão pública, na Biblioteca Nacional (disponível em https://www. luisdecamoessoo.gov.pt). A melhor forma de construir um programa consiste, talvez, em encontrar para ele um ponto de partida. Neste caso, o dito ponto resume-se numa pergunta: como podem a figura e a obra de Camões interpelar a nossa sensibilidade e o nosso pensamento? O que existe nelas de atual?

Sabemos que houve sempre uma atualidade camoniana. Só assim se explica que o escritor tenha vindo a ser celebrado consecutivamente, pelo menos desde 1880, ano em que se assinalou, com invulgar aparato, o tricentenário da sua morte. Camões foi um herói romântico duradouro e multiforme, um fortíssimo emblema republicano, um símbolo do Estado Novo imperial. Embora tendo tido necessidade de vencer algumas hesitações, a democracia não deixou de o assimilar. Alargou-lhe mesmo o significado, convertendo-o num simbolo da diáspora e de uma lingua pluricontinental.

Mas estamos a chegar ao final do ano de 2024. A democracia, também ela justamente celebrada, perfez 50 anos e tornou-se adulta. A agenda cívica conheceu, entretanto, mudanças imprevistas. De entre as muitas que vêm ocorrendo destaco apenas duas, de cuja importância e repercussão não é possível duvidar. Desde há dois anos, falamos de inteligência artificial, sabendo que se trata de algo de profundamente transformador, tanto no plano da vida prática como no que diz respeito aos valores que vêm prevalecendo nas comunidades humanas. Não sabemos, em concreto, onde ficará colocada a criatividade e a ideia de autor.

A segunda mudança, sendo mais gradual, tem igualmente efeitos profundos em vários planos. Falo da intensa multiculturalidade que hoje se verifica no espaço educativo, acompanhando e prenunciando o fenómeno que se verificará na vida comunitária, em geral.

 A já referida questão da "atualidade" de Camões não pode deixar de ter em conta estas e outras coordenadas. Por outras palavras, não é possível continuar a ler e a ensinar um poeta que nasceu ha 500 anos como se nenhuma delas tivesse o peso que realmente tem. Se outros motivos não houvesse, estes seriam bastantes para evitar a simples repetição de processos.

Foi nesse sentido que se procurou conceber um Programa comemorativo que fosse não apenas adequado ao nosso tempo, mas que deixasse semente flexível de futuro. Tanto mais quanto ninguém se atreve a antever o que esse futuro (mesmo o mais imediato) possa vir a ser.

Procurou-se, em primeiro lugar, que a programação fosse fundamentada e suportada por objetivos. Mais do que um aglomerado de atividades, o Programa pretende ter uma estrutura. Nessa medida, o balanço das comemorações há de ser feito a partir das metas que agora se assumem e não apenas em função de simples taxas de cumprimento.

Num outro plano, o Programa deve ser abrangente: apoiando iniciativas (em curso ou programadas), mas, ao mesmo tempo, organizando outras, de maior amplitude. Nesse sentido, haverá Exposições em espaço nacional e no estrangeiro, mostras itinerantes, publicações de vário tipo e em suportes variados. Pensou-se na organização de um "Dia para Camões" em cada capital de distrito do território continental e nas regiões autónomas. Esse "dia" poderá revestir formatos diferentes, mas contará sempre com forte envolvimento das comunidades educativas, aquelas para quem Camões será necessariamente um "rosto" familiar no 9.º e no 10.° ano da escolaridade obrigatória.

Quis-se também que o Programa fosse aberto e mobilizador. Na medida das suas possibilidades e em alinhamento com os princípios gerais que agora ficam definidos, a Estrutura de Missão apoiará eventos ou projetos que possam ainda surgir ao longo do período em apreço.

Do mesmo modo, haverá presença camoniana regular nos órgãos de comunicação social: não apenas em registo noticioso, mas sob a forma de artigos de opinião. Sabe-se bem que, em múltiplos aspetos, as matérias camonianas sempre geraram controvérsia, seja ela de substância seja de perspetiva.

A diversidade foi outra preocupação dos organizadores. Haverá uma dimensão científica, acolhendo e potenciando o labor dos estudiosos que continuam e hão de continuar a ocupar-se da figura e da obra de Camões. De resto, refletindo o que sucede nos estudos literários em geral, os estudos camonianos encontram-se, também eles, em fase de reconfiguração de agenda. Nesse sentido, aos focos de interesse convencional (vida, corpus, fontes, organização temática e genológica) sucedem-se outros que, sem substituirem completamente os anteriores, reclamam atenção: estudos de género, literatura-mundo, pós- colonialismo, etc.

Haverá atividades de caráter artístico ou criativo, destinadas a públicos mais alargados. Não poderá haver celebrações camonianas sem ecos na pintura, na música, na escultura, etc.

Do mesmo modo, estão previstas (com ênfase clara) iniciativas destinadas a alunos/as e professores/as, do Ensino Básico e Secundário: a pensar neles e nelas, serão abertos concursos e serão organizadas exposições sob um figurino que se pretende moderno e atrativo.  É necessário refletir sobre a forma como Camões vem estando presente na Escola. Sabemos que existem experiências pedagógicas eficazes, versáteis e criativas. E importante identificá-las e dá-las a conhecer. Não tanto para que sejam decalcadas, mas para que passem a constituir um incentivo à renovação ponderada. De resto, o desafio que se coloca para Camões abrange os autores centrais do cânone literário europeu. Envolve, afinal, a integração dos conteúdos literários e artísticos nos programas escolares.

O objetivo central é o de criar estímulos para responder aos desafios que os textos camonianos ainda hoje suscitam aos/às jovens (e também aos/às menos jovens). Deseja-se, em concreto, que, para além de objeto de estudo, a poesia camoniana, escrita ha cinco séculos, sirva de base para atividades tão importantes como são sentir, pensar, falar, escrever, interpretar, criar.

Salvo melhor opinião, deve ser esse o desígnio a perseguir quando se lida com os textos de Camões em ambiente escolar. Existe um saber a transmitir; mas esse saber não deve limitar- se à passividade da escuta ou da leitura. Deve transformar-se em esforço e em gosto de apropriação.

Por fim, procurou-se que todo o programa fosse atravessado pela ideia de Debate. Como ficou dito, a obra de Camões sempre suscitou controvérsias, reduzidas ou alargadas. No passado, terçavam-se armas pela identidade da amada de Camões. A avaliar pelo sucesso que
vão tendo as biografias do poeta, a sua vida e a sua figura continuam a despertar o interesse de muita gente. Nada atrai tanto como a indefinição ou o mistério: onde nasceu Camões? qual era a sua verdadeira condição social? por onde andou exatamente? quais as causas dos seus muito autoproclamados infortunios? Não podemos surpreender-nos com a subsistência destas e de outras questões que tendo ocupado os biógrafos de há cem anos continuam afigurar nos índices das biografias mais recentes.

Mesmo os enigmas filológicos estão longe da clarificação. Basta lembrar que sobre Os Lusíadas (livro que o poeta teve nas mãos, com odor de tinta bem recente), recaem ainda dúvidas frontais, começando por uma que parece não ter encontrado ainda resposta convincente: houve uma ou duas edições no ano de 1572?


Em suma: encarregada de dinamizar as comemorações dos 500 anos de vida de uma figura tida por consensual, a Comissão não ignora que existem focos de interesse muito variados e várias questões em aberto. O mais e o melhor que se pode fazer é criar condições para que esses debates ocorram de forma fundamentada e livre, refletindo, como é normal, a pluralidade que caracteriza o nosso tempo.

A equipa que preparou o Programa tudo fará por que as atividades que dele constam se traduzam em proveito cívico e pedagógico. A poesia é um dos melhores pretextos para isso mesmo. Seria excelente que, celebrando os 500 anos do nascimento de Camões, conseguíssemos ir ainda um pouco mais longe do que é habitual: que, a partir da figura e da obra camonianas pudéssemos sentir-nos e pensar-nos um pouco mais e melhor, reforçando a consciência do papel que hoje nos cabe cumprir no mundo."

José Augusto Cardoso Bernardes
in JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1413 (27 nov. a 10 dez. 2024)














Fotografias disponíveis em
© Governo Português, Cultura | Facebook, 15.11.2024











para saber +





José Augusto Cardoso Bernardes
in JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1413 (27 nov. a 10 dez. 2024)

José Augusto Cardoso Bernardes

JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1401 (de 12 a 25 jun. 2024)


Cria a estrutura de missão responsável pelas 
Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões [PDF]












Redação: 9.12.2024, atualizado em 10.12.2024.