2021/07/12

A estátua de Camões na websérie "Lembra-te, Angola" de Alberto Oliveira Pinto


"As estátuas coloniais de Luanda"

EPISÓDIO NO CANAL DO YOUTUBE

de
Alberto Oliveira Pinto

12 JUL. 2021, segunda-feira

25.º episódio da websérie "Lembra-te, Angola"



"Em 2006, escrevi um ensaio sobre as estátuas coloniais de Luanda armazenadas na Fortaleza de São Miguel e que incluí no meu livro Angola e as Retóricas Coloniais (2012). 
Porém, a segunda década do século XXI [...] introduziria uma alteração no acervo estatuário da Fortaleza de São Miguel: é que já nem todas as estátuas que lá se encontram são "coloniais", porquanto a da rainha Njinga Mbandi, bem pós-colonial e removida do Kinaxixi por um capitalismo que desdenha a memória e o património, também lá está agora, convivendo com os governadores de Angola e com as figuras que, não sendo angolanas nem tendo nunca passado por Angola, representavam involuntáriamente o chamado "Império Português", como Camões ou Vasco da Gama."
Alberto Oliveira Pinto | Facebook, 30.05.2021

"Este vídeo inclui fotografias, respetivamente, sobre as estátuas durante as obras de Fortaleza de São Miguel em 2011 e da "Maria da Fonte" coberta de um plástico vermelho em 1975, que devo à amabilidade dos meus amigos Fernando Paiva e Fernando Pereira. 
Inclui igualmente uma foto de um muxiluanda a ximbicar o seu dongo, tirada pelo meu pai nos anos de 1960, assim como uma foto tirada pelo meu filho João Alberto em 1997, ao tempo com quatro anos de idade, aos pais e à irmã, Joana Ramiro, na Marginal de Luanda e defronte da escultura de António Ole que se encontra em cima do antigo pedestal da estátua de Vasco da Gama. 
Inclui, por fim, uma homenagem ao meu amigo Onofre Santos e ao seu livro Descompasso: Angola 1962, cuja introdução, referente às estátuas da Fortaleza de São Miguel, teve a amabilidade de publicar na página do Curso Livre História de Angola."
Alberto Oliveira Pinto | Facebook, 12.07.2021

"A noite das estátuas"

de Onofre Santos
Trata-se de um diálogo entre as estátuas da Fortaleza de São Miguel, em Luanda, 
publicado em 2016 como prólogo do romance Descompasso: Angola 1962 de Onofre Santos, 
e reproduzido no portal Buala editado e ilustrado com fotos por Marta Lança.





Estátua de Camões, na cidade de Luanda, em 1973
No Pinterest de "Maria L Gingeira"




Alberto Oliveira Pinto
Em 2006, escreveu um ensaio sobre 
as estátuas coloniais de Luanda armazenadas na Fortaleza de São Miguel,
texto que incluiu no livro Angola e as Retóricas Coloniais"(2012). 



Desocultar os fantasmas coloniais

PREFÁCIO

por Ana Mafalda Leite

"O livro Angola e as retóricas coloniais [2012] de Alberto Oliveira Pinto é uma obra de imprescindível leitura para investigadores, académicos ou ainda para todos os leitores que se sentem atraídos por conhecer mais acerca do percurso colonial português em Angola, agora redescoberto em páginas literárias e figurações culturais múltiplas. Significa que a valência desta obra é simultaneamente passível de atingir um grande público, o leitor mais comum, apaixonado ou curioso, ou um outro tipo de leitor, mais especializado, o professor, o aluno, o pesquisador.

Isto porque a singularidade da escrita desta obra alia o encanto, a maturidade e a prática de um escritor prestigiado, que Alberto Oliveira Pinto é, ao conhecimento e aturada pesquisa do historiador de África, que se foi fazendo na última década e meia, o que nos deixa perante uma obra muito desafiante e muito sedutora.

Este conjunto de ensaios reúne uma revisão de obras de Júlio Verne, ou de Emílio Salgari, ou ainda da banda desenhada de Tintim, ou por outro lado, releituras do romance colonial, fazendo-nos repensar na ideologia que se constrói retoricamente naquelas ficções e na forma como o atual romance pós-colonial é propiciador desse processo de desocultação. São recuperadas geografias de Angola, cenários, personagens e lugares, que tipificam estereótipos diversos sobre a figura do africano, e da forma como foram sendo construídos, ao longo de vários séculos de dominação colonial do ocidente, em obras dispares e muito distintas. Mas um mesmo elo as une, são similares os processos retóricos para as representações racializadas e desumanas do escravo, do indígena, do assimilado, recorrendo-se a um arsenal metafórico que passa pela animalização, coisificação, infantilização, lubricidade e tantas outras figurações retóricas, disfarçadas na época colonial sob o manto diáfano da fantasia romanesca, que Alberto Oliveira Pinto, o autor deste livro, vai lenta e criticamente desvelando e colocando à nossa reapreciação.

A indagação dos imaginários coloniais vai mais longe ainda, além da literatura, configurada em diferentes géneros, percorre as pequenas vilas do interior, as geografias urbanas das cidades coloniais, mostrando os enredos criadores da estatuária colonial e suas significações, a par do jogo de certas biografias coloniais, esquecidas e ou recuperadas ideologicamente, num palimpsesto de obtusas significações. Os vários ensaios que arquitectam a segunda parte do volume Angola e as retóricas coloniais são sabiamente concatenados num cruzamento de leituras, que se entrelaçam e complementam nas várias secções da obra, mostrando como a colonialidade, e suas formas retóricas de persuasão, se manifestam em todas as áreas culturais, da arquitectura à estatuária, do ambaquismo ao romance colonial, da banda desenhada ao romance de aventuras.

O autor vai desenvolvendo paulatinamente a sua trama, de ensaio a ensaio, desconstruindo cenários, épocas, obras literárias, num percurso de indagação sobre o modus faciendi, a utensilagem retórica e poética configuradora dos imaginários da colonialidade, suas figuras (des)humanas e variantes, salientando os obscuros ideologemas entretecidos na prática cultural, num processo de demonstração, fundamentado e rigorosamente alicerçado em diversificada e adequada bibliografia.

Na terceira parte deste volume, ensaios como "A Génese da literatura colonial portuguesa", além de nos darem um percurso cronológico preciso e analisarem algumas das obras mais relevantes produzidas neste contexto, permitem ao leitor compreender a diferença entre o exotismo oitocentista e a literatura colonial propriamente dita, e balizar a forma como se processou a criação de um género narrativo, eminentemente ideológico, e de que modo os Concursos de Literatura Colonial impulsionaram o seu desenvolvimento. Encontramos aqui elementos preciosos para investigações futuras e novas pesquisas, dissertações, ensaios, que permitam colmatar uma área, ainda em desenvolvimento, como é a área de Estudos Coloniais, nomeadamente a de Literatura, e outras práticas culturais, Colonial, que este volume de Alberto Oliveira Pinto vem em tão boa-hora resgatar.

A última parte do volume inclui vários estudos sobre a literatura colonial angolana, passando pela análise de A Velha Magra de Luanda de Emílio de San Bruno, ou a obra Em Terra de Pretos de Henrique Galvão, assim como desenvolve a questão do tratamento da mulher e do feminino nos livros de Luís Figueira e de Ferreira da Costa. Este último conjunto de ensaios conclui com um estudo sobre o romance Uanga "Feitiço" Romance Folclórico Angolano (1935) de Óscar Ribas, enquanto apropriação do discurso colonial português por um autor angolano, conducente a uma afirmação da angolanidade através da escrita.

Naturalmente que na sequência deste tipo de análises e de estudos se interrogam também algumas das mais interessantes provocações e se abrem áreas de reflexão para o estudioso da literatura colonial: ver como a escrita e ideologia coloniais, de certo modo, vieram trazer os elementos necessários e as sementes para o nascimento, fortalecimento e constituição do romance africano, neste caso, angolano.

Acompanhado de uma excelente iconografia comentada e de uma bibliografia ensaio a ensaio, este livro de Alberto Oliveira Pinto vem trazer-nos a novidade de uma escrita de cunho romanesco/ensaístico, simultaneamente reflexiva, muito culta, pormenorizada até aos mínimos detalhes nas suas referências históricas, indagante e muitíssimo inteligente, sobre as múltiplas teias que o Império teceu nas suas diversas práticas culturais.

Estou certa de que esta obra se vai tornar um elemento bibliográfico de referência, imprescindível e fundamental, para a área de Estudos Coloniais, bem como outras que, certamente na esteira desta, este original ensaísta/ historiador/ narrador virá a produzir no futuro.

Deixo ao leitor a tarefa de poder ter o prazer de ler as páginas que se seguem, e também o de se sentir instigado por uma escrita, que desoculta do passado os fantasmas coloniais, muitos deles ainda fragmentados e inconscientemente presentes nas práticas culturais do presente."

por Ana Mafalda Leite
Professora do Dep. de Literaturas Românicas, FLUL
Investigadora do CEsA, do ISEG / UL


"Um questionamento sobre o facto colonial"

Angola e as retóricas coloniais reúne parte das intervenções – ensaios, comunicações, artigos, conferências - que o autor realizou durante cerca de uma década e que vieram a preparar a sua tese de Doutoramento em História de África, Representações [literárias] coloniais de Angola e dos angolanos e suas culturas (1924-1939), defendida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 2010 e publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2012.

Embora todos os estudos aqui seleccionados visem teorizar sobre as as representações do "Outro" na retórica preferencialmente literária, legitimadora do facto colonial, nem todas têm por objecto a análise do facto de obras literárias, além de não se restringirem, nem a autores coloniais portugueses, nem ao caso angolano.

Analisam-se inicialmente duas obras de ficção da literatura europeia do século XIX, uma de Júlio Verne, outra de Emílio Salgari, versando sobre Angola, além de duas obras de banda desenhada do século XX, uma de Hergé, outra de de Jacques Martin, tendo esta última como pano de fundo o que poderiam ter sido Angola e Congo na antiguidade clássica. Reflete-se também sobre os motivos pelos quais poder colonial erigiu em Luanda , no século XIX estátuas de Pedro Alexandrino da Cunha e de Salvador Correia de Sá, além de se proceder a uma abordagem geral sobre a instituição do Concurso de Literatura Colonial da Agência Geral das Colônias em 1926, ou seja de como emergiu efectivamente a literatura colonial portuguesa. Confrontam-se por fim obras de literatura colonial portuguesa com obras literárias angolanas emergentes da oralidade, nomeadamente as obras de Oscar Ribas.

Inserindo-se no campo teórico da história cultural ou dos imaginários – encarando a cultura como um conjunto significados e símbolos construídos pelos homens para explicar o mundo, que pressupõe sempre um posicionamento inevitavelmente valorativo, Alberto Oliveira Pinto, propõe ao leitor um questionamento sobre o facto colonial, encarado não da perspectiva da memória e da história, mas também das realidades contemporâneas que se convencionaram designar por “pos-coloniais”, ou mais concretamente, por neo-coloniais.”

In: badana direita do livro




Escritor, historiador, ensaísta, youtuber.
 Nasceu em Luanda, a 8 jan. 1962. 
É doutorado em História de África pela Faculdade de Letras da U. Lisboa, 
tendo lecionado em várias universidades portuguesas. 
do Instituto Superior de Economia e Gestão.

Como ficcionista publicou, entre outros títulos: 
Eu à Sombra da Figueira da índia (1990), Concerto na Nespereira (1991), 
O Saco dos livros (1991), O Senhor de Mompenedo (1992), 
O Onagro de Sintra (1994), A Sorte e a Desdita de José Policarpo (1995). 
Mazanga (1998) e Travessa do Rosário (2001). 

No ensaio é autor de
A oralidade no romance histórico angolano moderno (2003), 
Domingos José Franque e a história oral das linhagens de Cabinda (2004), 
Cabinda e as construções da sua história (1783-1887) (2006),
Representações literárias coloniais, de Angola, dos angolanos, e suas culturas (1924-1939), (2012).
Angola e as retóricas coloniais: roupagens e desvendamentos (2012),
História de Angola: da pré-história ao início do século XXI (2015).

Alberto Oliveira Pinto
é autor do Canal no YouTube LEMBRA-TE ANGOLA,
uma "Websérie sobre História de Angola"
com apresentação e Guião de Alberto Oliveira Pinto 
e realização de João Alberto Pinto.



para saber +


Alberto Oliveira Pinto | Canal no Youtube
que "publica todo o conteúdo oficial que se relaciona com a atividade" do escritor e historiador
e a sua websérie "Lembra-te, Angola", com episódios interativos cada 2ª-feira.

Fernando Paiva Facebook, 1.02.2021





Redação: 10.07.2025